O comportamento do mestre dita o êxito ou o fracasso de suas aulas
Por Antônio Gilberto
A integridade de caráter é um valioso fator determinante para o êxito do ministério daquele que ensina na casa de Deus, inclusive na Escola Dominical. O termo caráter considerado ao seu étimo significa marca, sinal ou impressão visível deixada, estampada ou gravada por algo ou alguém, como pegadas deixadas na areia, no barro ou cimento ainda mole, e noutros matérias impressionáveis. Aplicado ao ser humano, o termo caráter denota a marca moral indelével, definida, clara e inconfundível que deixamos gravada nas pessoas, nos lugares e nos eventos por onde passamos. É enfim a estrutura ou construção moral de uma pessoa, seu modo de ser, de proceder, de viver diante dos outros. É sua “marca registrada” pessoal e moral. Em resumo é o conjunto de qualidades que uma pessoa possui. Todo ser humano tem qualidades que o distingue, que deixam marcas nos outros, que constituem o seu retrato moral característico, distintivo, único.
O CARÁTER NA BÍBLIA
O “óleo precioso” da unção descia primeiramente sobre a cabeça, mas também sobre a barba de Arão, o sacerdote, e à orla das suas vestes sacerdotais (Sl 133.2; 2 Pd 2.5,6 e Ap 5.10). Entre o povo de Deus, a barba nos tempos bíblicos fala de caráter impoluto, honradez, dignidade, integridade de vida. É a unção divina sobre isso, na vida do professor da Escola Dominical. “Ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre”, diz o versículo seguinte do Salmo em apreço. O óleo sobre a cabeça é a unção de Deus sobre a mente do cristão; sobre suas idéias, conclusões, pensamentos, palavras e decisões. Essa gloriosa unção na mente do cristão produz na vida dos outros, como resultado do trabalho mental, frutos benditos, crescentes e multiplicados. Veja Levitico 8.12. As vestes sacerdotais apontam para o desempenho do ministério como um todo, uma vez que essas vestes sagradas cobriam o corpo todo, da cabeça aos pés, e cada peça tinha a sua finalidade descrita na Bíblia. Veja 2 Coríntios 6.3 e Romanos 11.13. Há mestres cristãos, ocupados na obra, que têm poder e dons, mas sem avanço, sem sucesso e sem frutos permanentes do seu labor por terem um caráter deformado, reprovável, destemperado e contraditório em se tratando do testemunho exemplar que deve fluir da vida do professor cristão. Numa variedade de situações e contexto da vida, aprende-se mais com a vida e conduta exemplar do professor do que com suas aulas. Por outro lado, as ricas aulas ministradas pelo professor, cujo testemunho cristão espelha o Evangelho, ninguém jamais as esquece à medida que passam os anos. Na palavra de Deus, o caráter crente está estreitamente vinculado à fidelidade, à santificação da vida, à ética. Os mais ricos textos bíblicos sobre o caráter ideal tão nos Salmos, Provérbios, Sermão da montanha (nos Evangelhos), bem como em inúmeras passagens bíblicas comuns como Filipenses 2.15 E Romanos 12.9-21. Mas também a Bíblia ensina sobre o caráter exemplar de vidas como Samuel (1 Sm 9.6; 12.2-5), Noé (Gn 7.5-6), Enoque (Hb 11.5), João Batista e Isabel, sua esposa (Lc 1.6), Barnabé (At 11.22-24), Paulo (At 20.17-24,35), Demétrio (3 Jo v.12).
O TESTE DO BOM CARÁTER DO PROFESSOR
O professor da Escola dominical, seja ele homem ou mulher, casado ou solteiro, jovem ou adulto, obreiro ou leigo, deve esforça-se diante de Deus para situar-se bem no teste do bom caráter cristão, como veremos a seguir.
O teste doméstico do caráter em casa.
É no lar, em família, que o caráter do professor revela-se primeiramente, junto aos seus pais, esposa, marido, irmãos, parentes próximos e distantes, mas também amigos, colegas e vizinhos. Como procede o mestre em casa, com aqueles com que ele ou ela convive na intimidade da família? Sim, é no lar que o professor da Escola Dominical deve primeiramente dar testemunho do seu bom caráter cristão, da sua vida fé, espiritualmente, oração e comunhão com Deus.
O teste profissional do caráter no trabalho.
Isto tem a ver com o professor no exercício da sua profissão, o desempenho da sua ocupação, mas também na escola onde estuda; enfim, o trabalho que alguém executa e a vida que vive em grupo, em conjunto. Como o professor da Escola Dominical procede com seus colegas de trabalho, com seus patrões, com os empregados, clientes, com os professores colegas na Escola Dominical, com seus alunos. Este teste tem a ver primeiro com a qualidade do trabalho que alguém executa, e não primeiramente com a quantidade de trabalho executado, apresentado. É o professor primeiro sendo, e depois fazendo. Em Lc 6.40 esta escrito: “O discípulo não é superior a seu mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre”. Ser como o seu Mestre (Jesus), e não primeiramente fazer para o seu Mestre.
O teste social do caráter junto ao grupo, à sociedade.
Como procede o professor quanto àqueles que não desfrutam das mesmas vantagens, meios e regalias que esse professor ou professora tem? Ele descrimina os outros por estar em posição ou situação de vantagem? E como ele ou ela procede quando em posição de vantagem?
O teste do sucesso ministerial.
Como procede o professor em relação aos outros quando circunstancias favoráveis levam-no à riqueza ao poder, à elevadas posições, à honrarias; enfim, levam-no ao sucesso material? Ele ou ela, com a graça de Deus, permanece simples, fiel, humilde de espírito, submisso, espiritual e sempre espiritual com dentes?
O teste do caráter no sofrimento.
É o referido teste em ralação ao próprio professor. Como ele procede em relação a si mesmo (mas que também afeta os outros com quem convive e conhece), quando surgem as provações da vida, as crises, contratempos, dissabores e dificuldades? Quando também ocorre perda de status e sem previsão de reavê-lo?
O teste do caráter quanto ao tempo.
É também em relação ao próprio professor. A medida que os anos correm, o professor prossegue sempre como exemplo digno de ser imitado, de vida cristã, rica, abundante e vibrante, crescendo em graça e conhecimento diante de Deus. Sim, o caráter ideal é também provado aqui, ao longo da vida. Muitos professores e obreiros outros já não são a candeia que no passado, como João Batista, brilhava (Jo 5.33-35).
Concluímos com o texto bíblico muito apropriado para este momento, 2 Tm 2.15: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Esse assunto também é abordado com propriedade em Provérbios 22.1, que diz: “Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas; e a graça é melhor do que a riqueza e o ouro”.
Pastor Antonio Gilberto é consultor doutrinário da Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD).
REVISTA ENSINADOR CRSTÃO ANO 3 – N° 11, JUL/AGOS/SET/2002