domingo, 18 de dezembro de 2016

RESENHA: QUAL O CAMINHO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS, AMOR PARA TODOS OU SOMENTE PARA ALGUNS?


RESENHA
Valdemir Pires Moreira*

WALLS. JERRY L.

Qual o Caminho das Assembleias de Deus, amor para todos ou somente para alguns?

São Paulo: Editora Reflexão, 2016, 123 p.

Tem surgido no cenário teológico brasileiro uma proposta para as assembleias de Deus, alguns acham que a melhor forma de minimizar alguns problemas dentro da gigante denominação, seja abraçar a doutrina reformada (calvinismo). Quem conhece um pouco da teologia pentecostal clássica sabe que tal proposta é inviável. Em minha opinião uma exclui a outra em vários aspectos teológicos. Por exemplo, as Assembleias de Deus afirmam em sua interpretação soteriologica que a Eleição é Condicional, ao passo que o calvinismo defende a Eleição Incondicional, as Assembleias de Deus defendem uma Graça Resistível ao contrário do calvinismo que defende uma Graça Irresistível, em sua ação evangelística as Assembleias de Deus prega a salvação para todos, crendo que todos têm a oportunidade de serem salvos, já a teologia calvinista acredita que Jesus Cristo não morreu em prol de todos. Tais princípios de interpretação são aspectos teológicos que fazem parte do corpo doutrinário das Assembleias de Deus desde seus primórdios, e modificar tais pontos é descaracterizar a teologia de uma denominação e negar suas raízes teológicas advindos da Reforma protestante e do Movimento Wesleyano em vários aspectos.

Qual o Caminho das Assembleias de Deus, é um livro que vem ao auxílio da membresia e do ministério que compõem as Assembleias de Deus. A obra surge da pena do teólogo Jerry Walls e é prefaciada por Byron D. Klaus, ex-presidente do Seminário Teológico das Assembleias de Deus em Springfield, Missouri, EUA (1999-2015). A referida obra gira em torno da proposta bíblica de que o amor de Deus é oferecido a todos diferentemente do que afirma a visão calvinista.
    
Na introdução da obra, Jerry aborda a influência do calvinismo em arraiais assembleianos, cita um movimento crescente na propagação da teologia arminiana nas redes sociais em solo brasileiro, detecta o motivo do crescimento do calvinismo devido ao bom trabalho de divulgação que eles fazem de sua teologia, vindo assim a influenciar tanto no Brasil, em partes da América do Sul, bem como nos Estados Unidos. Deixa claro que uma das questões vitais que está em jogo em meio a todo esse debate é nada mais nada menos do que a pregação do evangelho à humanidade perdida que precisa da palavra da vida.  No primeiro capítulo, ele aborda O Amor de Deus, o que ele diz ser o ponto cego do calvinismo. Observa que no livro as Institutas da Religião Cristã, João Calvino não cita uma vez só, que Deus é amor, tal pensamento reflete na teologia de vários eruditos calvinistas, que preferem enfatizar a Soberania Divina em detrimento do Amor de Deus, trazendo assim certa confusão em sua teologia. No segundo capitulo, faz observações sobre os cinco pontos do calvinismo (TULIP) e sobre os cinco pontos do arminianismo (FACTS), em seguida, aponta um dos deslizes da teologia calvinista, que é o fato de ensinarem que Deus ama alguns, mas não a todos, de sorte que Ele escolhe uns e outros não. No terceiro capítulo, discorre sobre a oferta irresistível da graça para alguns, mas impossível para outros. No quarto capítulo, Jerry aborda a questão de maneira lógica e apologética, demostrando a inconsistência do amor de Deus na visão calvinista. No quinto capítulo, citando os autores calvinistas D.A. Carson e John Piper, Jerry disseca textos dos mesmos, e prova a inconsistência existente em suas afirmações de que Deus ama a todos. No sexto e último capítulo, o assunto passa a ser a teologia do amor de Deus, Jerry vai expor a interpretação arminiana do amor de Deus, considerando ser essa a interpretação mais bíblica do assunto.  Ele conclui a obra lembrando que as igrejas pentecostais devem se posicionar quanto ao assunto e afirmar a teologia Armínio-Wesleyana uma vez que as mesmas defendem que Jesus Cristo morreu por todos e por cada uma das pessoas.

Agradecemos ao teólogo americano Jerry Walls por sua contribuição teológica sobre um assunto que envolve as igrejas pentecostais, mais precisamente as Assembleias de Deus. Agradecemos a Editora Reflexão pela ponte que faz entre os teólogos internacionais e os nacionais de nosso país, para que ambos possamos crescer, formando uma teologia alicerçada nas Sagradas Escrituras. 


*Valdemir Pires Moreira é diácono da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Caucaia (CE), professor da Escola Bíblica Dominical e Administrador das páginas no Facebook Teologia Arminiana em Vídeos e Teologia Arminiana em Livros.

domingo, 25 de setembro de 2016

RESENHA: ASSIM CREMOS, PECADO, GREÇA E FÉ NA ORTODOXIA ARMINIANA. LUÍS HENRIQUE S. SILVA: EDITORA REFLEXÃO


RESENHA

Valdemir Pires Moreira*

S. SILVA, LUÍS HENRIQUE.

Assim Cremos

São Paulo: Editora Reflexão, 2016, 108 p.


Faz-se necessário compreendermos aquilo que professamos crer, pois, quando cremos em algo que não sabemos explicar, corremos o risco de sermos confundidos. Atribuir a uma teologia aquilo que na sua realidade ela não ensina, beira a desonestidade ou no mínimo a falta de conhecimento do assunto.
Assim Cremos é uma obra de linha arminiana, que reafirma o que nós arminianos cremos no que diz respeito ao pecado, a graça e a fé. É uma obra que traz um pano de fundo histórico e apologético. O professor de teologia Luís Henrique S. Silva, cativa-nos trazendo fatos históricos que comprovam a autenticidade ortodoxa da teologia arminiana.
Na introdução há um alerta para que não nos descuidemos de conhecer a história da igreja, também um convite a defesa da ortodoxia diante das heresias que tanto assolaram a igreja no decorrer dos tempos e igualmente em nossos dias. Chama-nos a atenção para o fato de que se faz necessário fixarmos a ortodoxia arminiana, como forma de prepararmos as futuras gerações de teólogos arminianos e darmos aos não arminianos uma exposição fiel e resumida da teologia arminiana. Aborda ainda, o debate histórico entre Santo Agostinho e Pelágio, discorre sobre a doutrina da graça em Agostinho, Pelágio, João Cassiano, Armínio, nos Remonstrantes e em John Wesley. Deixa claro através de relatos históricos que o semipelagianismo tem mais a ver com Agostinho do que com Armínio, informando-nos que na verdade os semipelagianos não eram discípulos de Pelágio e sim admiradores de Agostinho. O autor ainda traz uma definição sobre a fé, e desfaz acusações infundadas contra o arminianismo de que a teologia arminiana compreende a fé como uma moeda de troca para com Deus, e que a fé no arminianismo é mérito humano. Conclui sua obra convidando-nos para a observação do arminianismo prático, isso é, que o arminianismo em suas raízes tem o compromisso prático de vivermos e nos movermos de acordo com as Sagradas Escrituras, de maneira irênica com quem quer que seja, agindo com amor a Palavra, ao próximo e em paz com todos.
A obra se faz necessária pelo fato de nos apresenta a teologia arminiana abordando sua ortodoxia bíblica. Agradeço ao irmão Luís Henrique por mais essa obra arminiana que com certeza ajudará a preparar as próximas gerações de teólogos arminianos.

*Valdemir Pires Moreira é diácono da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Caucaia (CE), professor da Escola Bíblica Dominical e Administrador das páginas no Facebook: Teologia Arminiana em Vídeos e Teologia Arminiana em Livros.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Á LUZ DA BÍBLIA, A ELEIÇÃO É CONDICIONAL E A EXPIAÇÃO É UNIVERSAL QUALIFICADA.


Por Silas Daniel

De vez em quando alguns cristãos se deparam com antigos questionamentos teológicos que os levam a debater-se interiormente. Alguns dizem respeito ao livre-arbítrio, à Predestinação, à Eleição e à Expiação. Portanto, vejamos uma exposição sintética sobre esses temas à luz das Escrituras.
Em primeiro lugar, é importante dizer que, à luz da Bíblia, o homem não regenerado é escravo do pecado e incapaz de servir a Deus com suas próprias forças (Rm 3.10-12), mas, por ainda ter em si resquícios da imagem de Deus, ele tem capacidade (livre-arbítrio) de, mesmo no estado caído, corresponder com arrependimento e fé quando Deus o atrai a si. A iniciativa é sempre de Deus, já que o homem, em seu estado caído, não pode e não quer tomar a iniciativa.  Ele precisa primeiro ser convencido para depois ser convertido, e quem convence o homem é o Espírito Santo (Jo 16.8-11). É Deus, portanto, quem desperta o interesse de salvação no homem (Jo 6.44 e At 16.14). Tal desejo, porém, depois de despertado, pode ser resistido (Hb 3.7-19; 10.23-29; 10.39 e 12.25; At 7.51 e 13.46; Mt 23.37; 2 Pd 2.1,2,20,21; 2 Cr 15.2; 1 Tm 4.1; 2 Tm 2.12 e Tg 4.8). Se o homem aceita a oferta de Salvação, ele é salvo por Deus e o Espírito opera a regeneração.
Assim como a iniciativa para a salvação é sempre de Deus (Ef 2.4-9), a regeneração é operada tão somente por Deus. Não é pelas próprias forças do homem que ocorre a regeneração, mas pelo poder do Espírito (Tt 3.3-7). Ou seja, o livre-arbítrio é claro (Dt 30.19; Js 24.15; 1 Rs 18.21; Is 1.19,20; Sl 119.30; At 10.43; Jo 1.12 e 6.51), mas não é ele que salva o homem. É Deus quem opera a Salvação no homem e o transformar pelo poder do Espírito Santo quando ele aceita a Salvação. E mesmo no livre-arbítrio há a soberania divina, pois foi Deus quem deu essa capacidade de escolher ao homem, capacidade esta que é resquício da imagem divina nele. Deus, em sua soberania, criou homens livres.
Em segundo lugar, à luz da Bíblia, a Eleição é condicional. A Eleição divina não é escolha arbitrária de Deus, mas frut. De sua presciência (Rm 8.29,30).
Deus quer que todos se salvem (At 10.34 e 17.30-31; 1 Tm 2.4; 2 Pd 3.9 e Rm 11.32), mas os eleitos de Deus são aqueles que o aceitam (Jo 7.37-38 e Ap 22.17), cuja decisão já era conhecida por Deus por ser Ele onisciente e presciente, isto é, sabe de todas as coisas antes de todas as coisas acontecerem.
A Bíblia sempre fala de predestinação à vida eterna em Cristo. Efésios mostra isso. Aliás, os termos “em Cristo Jesus”, “no Senhor” e “Nele” ocorrem 160 vezes nos escritos de Paulo, sendo que 36 vezes só em Efésios, onde está o recorde. Ou seja, se queremos entender bem Efésios, devemos começar a atentar para a palavra chave da epístola: “em Cristo”. Ora, mais de uma vez é dito em Efésios 1 que a predestinação ocorre em Cristo. Ou seja, a predestinação e a eleição não são para estar em Cristo.
Clarificando: para aqueles que estão em Cristo está destinado desde a fundação do mundo a Salvação; a quem não estiver Nele, a perdição. Enquanto você estiver Nele, seu destino é o Céu. Enquanto não estiver Nele, o Inferno. O critério é estar Nele. Como afirma Paulo, Deus nos elegeu “para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1.4), mas Cristo só vai “vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé e não vos moverdes da esperança do Evangelho” (Cl 1.22,23). Está claro: a eleição é condicional. E qual a condição? Estar em Cristo: “... nos elegeu nele...” (Ef 1.4).
Finalmente, à luz da Bíblia, a Expiação de Cristo é universal qualificada. Como assim?
Cristo morreu por todos (Jo 3.16; 6.51; 2 Co 5.14; Hb 2.9 e 1 Jo 2.2), mas sua obra salvífica só é elevada a efeito naqueles que se arrependem e crêem (Mc 16.15,16 e Jo 1.12). Ela é suficiente mas só se torna eficiente na vida daqueles que sinceramente se arrependem do seus pecados e aceitam a Cristo como único e suficiente Salvador e Senhor de suas vidas. A Expiação de Cristo foi feita para toda humanidade, mas só os que a aceitam usufruem de sua eficácia.
Conquanto existam passagens que afirmam que Cristo morreu pelas ovelhas (Jo 10.11,15), pela Igreja (At 20.28 e Ef 5.25) ou por “muitos” (Mc 10.45), o que sugeriria que a Expiação é Limitada, a Bíblia afirma claramente em muitas outras passagens que a Expiação é universal em seu alcance (Jo 1.29; Hb 2.9 e 1 Jo 4.14), o que deixa claro que as passagens que dão uma idéia de ela ter sido limitada nada mais são do que referências à eficácia da Expiação e não ao seu alcance.  Quando a Bíblia associa naturalmente e enfaticamente os que crêem em Cristo à obra expiadora, está apenas frisando a eficácia da Expiação e não seu alcance (Jo 17.9;Gl 1.4; 3.13; 2 Tm 1.9; Tt 2.3 e 1 Pe 2.24).
Porém, ainda há quem argumente que se a Expiação é universal, mas só crida e aceita por alguns e não por todos, isso significa que ele teria sua eficácia comprometida. Claro que não! O fato de muitos usufruírem dela já demonstra sua eficácia. Ela só não seria eficaz se ninguém se salvasse.
A salvação de todos não é a condição sine qua non para a eficácia da Expiação, mas o é, tão somente, a consecução da Salvação. Se muitos são os salvos por essa Expiação, esta já é eficiente. Não houve “desperdício” pelo fato de seu alcance ser universal, mas nem todos serem salvos. Além disso, se crermos que a Expiação de Cristo é limitada, o que seria um sacrifício que proporcionasse uma Expiação Ilimitada? Jesus sofreria um pouco mais na cruz?
Outro fato: uma Expiação Limitada é uma contradição ao ensino bíblico de que Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17 e At 10.34). Deus é soberano, mas isso não significa que Ele fará alguma coisa que contradiga o seu caráter santo e amoroso. Lembremos ainda que uma hermenêutica prudente interpreta uma passagem ou passagens observando o contexto geral sobre o assunto na Bíblia. A Bíblia se explica por meio dele mesma. Portanto, se ela afirma que Deus é santo, justo e amor, e não faz acepção de pessoas ; e que Deus quer que todos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1 Tm 2.3,4); e que a Expiação foi por “todos” (1 Tm 2.6 e Hb 2.9); logo, as passagens em que há alusão a “muitos” devem ser interpretadas à luz dessas outras. E quando o fazemos, percebemos que as passagens que aludem a “muitos” não se referem ao alcance da Expiação, que é universal, mas à eficácia dela para os “muitos” que a receberam por fé.
Além disso, como frisa o teólogo norte-americano Daniel Pecota, não se pode simplesmente desconsiderar o significado óbvio de alguns textos sem ir além da credibilidade exegética. Quando a Bíblia diz que: “Deus amou o mundo” (Jo 3.16)ou que Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) ou que Ele é o “Salvador do mundo” (1 Jo 4.14), significa isso mesmo. Em texto algum do Novo Testamento, “mundo” se refere à Igreja ou aos eleitos. Escreve o apóstolo João, referindo-se a Cristo e à Expiação: “E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos pecados, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.2).


Silas Daniel é pastor, jornalista, comentarista das revistas Adolescentes e Juvenis de Escola Dominical da CPAD e autor do livro A Sedução das Novas Teologias (CPAD).  

Jornal Mensageiro da Paz de Maio de 2008. Pág. 25.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A REFORMA PROTESTANTE E OS PENTECOSTAIS

Por Esequias Soares

Por ocasião das comemorações da Reforma Protestante, um conhecido pastor brasileiro afirmou, em declaração infeliz, que “uma igreja que pratica companha, jejum ou reuniões específicas para receber uma benção não é protestante”, concluindo em seguida que pentecostais não podem ser considerados protestantes, o que merece uma resposta bíblica.
No último 31 de outubro, a Reforma Protestante completou 488 anos de história. A suprema conquista da Reforma foi o reconhecimento das Sagradas Escrituras como a fonte única da doutrina, do conteúdo da fé cristã. A salvação é somente pela graça, recebida somente pela fé de cada cristão.
Martinho Lutero veio em primeiro lugar como fundador de um movimento que se perpetuou, ao passo que “Igrejas Reformadas” é o termo aplicado às que seguiram o movimento de João Calvino. Eles próprios se submeteriam ao consenso do que as Sagradas Escrituras ensinam. Daí Calvino dizer que “a igreja reformada sempre deve esta se reformando”, enquanto que a mentalidade do irmão mais velho do filho pródigo quer uma rigidez no ponto até onde alcançou, e não há vaga para os demais. Isto é: as conquistas religiosas dos tempos da Reforma não conseguiram impedir que o Espírito Santo continuasse falando aos crentes.
Historicamente, a igreja quando passou a ser a religião oficial do Império Romano, já sem perseguições e martírios, foi desenvolvendo um sistema de jejuns meritórios, justamente o que se critica. Os reformadores, diante disso, rejeitavam dias obrigatórios de jejuns. Por outro lado, a volta sistemática aos ensinos bíblicos pelas igrejas verdadeiramente fiéis trouxe de volta o jejum no seu sentido espiritual, de comunhão com Deus, de buscas a sua presença e com fé.
O jejum, na Bíblia, inclui abstinência de todos os alimentos durante determinado período de tempo. É normalmente vinculado com atos públicos de religião, seja no Dia da Expiação (Lv 16.29-31), seja em tempos de perigo nacional (Jz 20.26) ou de arrependimento e renovação da fé em Deus. Sempre era ligado à oração, a humilhar-se diante de Deus, a buscar a face do Senhor, e qualquer indivíduo podia jejuar em momentos de aflição, para buscar consolo da parte de Deus, ou como expressão de piedade ou devoção conforme a ocasião que cada fiel escolhia.
Em Ester 4.16, livro em que não aparece literalmente o nome de Deus, o jejum para os judeus significava, especificamente, buscar a Deus, humilhar-se diante Dele, pedir a sua intervenção. Tratava-se de uma campanha de oração a Deus!
Os profetas podiam condenar o jejum falso, com rito praticado por pessoas que não se arrependeram genuinamente diante de Deus e que não se deixariam comover pelo amor ao próximo (Is 5.8 e Jr 14.11-12), mas, justamente assim, definem o que o jejum deve ser.
Jesus mesmo fez seu grande jejum no deserto antes de iniciar o seu ministério (Mt 4.1-2 e Lc 4.1-2). Por contraste com os jejuns tão comuns entre os judeus dos seus tempos, com tantas regras e pormenores, Jesus enfatizou ser o jejum mais um ato individual de devoção a Deus, sem ostentação pública, e menos apropriado na presença pessoal de Jesus do que depois da sua partida (Mt 6.16-18; 9.14-15).
Nossos críticos jamais deveriam esquecer a expressão “meios da graça” que os reformadores usavam bastante. Orações, leituras bíblicas, pregações, o batismo, a Santa Ceia e numerosos princípios registrados na Bíblia, todos são meios de o crente apresentar a mão vazia para aceitar a graça. “Graça” desvinculada de qualquer ligação entre o ser humano e Deus parece bem sub-protestante.
Considerando infundada a declaração “os pensadores pentecostais desenvolveram uma explicação baseados nas experiências”. Convém lembrar que a “explicação” provém da Bíblia. A definição pentecostal só pode ter existência sólida no estudo da Palavra de Deus, tanto as breves meditações singelas dos mais humildes cordeiros de Jesus como as grandes obras da Teologia Sistemática pentecostal.
É verdade que a doutrina pentecostal dá muita ênfase às experiências pessoais do cristão com o Senhor Jesus. Mas, a diferença básica é que essas experiências são fundamentadas na Palavra de Deus. Religião sem sobrenatural é mera filosofia.
Na farta literatura pentecostal que tem surgido a partir de 1900, existe muitos estudos bíblicos sobre a atuação do Espírito Santo na Bíblia e comprovações de que a mesma atuação continua se desdobrando onde ela é aceita, isto sem negar a soberania divina que permite surgir a mesma operação milagrosa onde nem era esperada. Quaisquer experiências são fruto dessa atuação do Espírito Santo, “repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11). Cada uma tem suas características individuais.
Uma das características da Dispensação da Graça é o fato de Deus comunicar-se com cada crente individualmente, independentemente de sexo, raça e idade, por meio de sonhos, visões, profecias e até pelas pequenas coisas naturais do dia-a-dia (At 2.17-18). Esses privilégios eram restritos aos profetas ou alguém escolhido por Deus para uma obra específica nos tempos do Velho Testamento (Nm 12.6).
A notícia a respeito do batismo no Espírito Santo e os dons milagrosos que se seguiam correu muito rapidamente, e muitas pessoas acolhiam-na como cumprimento dos seus anseios espirituais. As experiências seguiam às doutrinas; assim como também a experiência segue a conversão, como realidade sólida baseada na obra específica realizada por Cristo.
Temos, sim, o dom da profecia, mas apropriado para surgir num culto de adoração. O dom provem da parte do Espírito Santo. Assim, temos em Atos 21.9 “quatro filhas donzelas, que profetizavam”. Recebiam o dom de profecia da parte do Espírito Santo. As igrejas pentecostais legítimas andam na Bíblia, é o Espírito Santo quem lhes confirma a total veracidade e o poder espiritual das Escrituras Sagradas. Não sei se outros grupos, mesmo tendo pais espirituais de 488 anos atrás, estão tão fiéis à Palavra de Deus... A marca distintiva da Reforma Protestante está presente em nosso meio Sola Scriptura, Sola Gracia, Solo Cristus e Sola Fides. Nossa crenças e prática são provenientes das Escrituras Sagradas. Defendemos os mesmos pontos cardeais da fé cristã das demais igrejas e denominações co-irmãs.

Esequias Soares é pastor, líder da AD em Jundiaí (SP)  e da Comissão de Apologética da CGADB.

Jornal Mensageiro da Paz de Dezembro de 2005, Pág. 14.