segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

OS CORPOS DOS ÍMPIOS RESSUSCITADOS



“Como serão os corpos das pessoas não crentes na ressurreição?”

(Ailson Guimarães – Belém, PA)



Por José Gonçalves



Ao escrever sobre a ressurreição, o teólogo Gary R. Habermas (2009, p.343) observa que ela é como um diamante multifacetado. Virando para um lado, veremos suas fortes evidências históricas, mesmo se usássemos apenas um limitado número de fatos confirmados pelos dados e que são reconhecidos até mesmo pelos críticos. Por outro lado, se virarmos esse diamante, esses mesmos fatos acabam por efetuar as alternativas naturalistas que visam negar a ressurreição. Se dermos meia volta com essa pedra preciosa, acabaremos por nos concentrar na natureza corporal das aparições de Jesus. Habermas conclui que se mantivermos todas essas facetas em mente, poderemos ver como o foco da ressurreição da Teologia Cristã propicia um ponto de integração entre todos os aspectos da vida.

A Doutrina da ressurreição das pessoas não crentes enquadra-se na categoria de “Ressurreição Geral”. No Antigo Testamento, temos algumas passagens que se referem a ela de uma forma bastante clara, como por exemplo, Jó 19.26, Salmos 49.15 e Daniel 12.2,13. No Novo Testamento, encontraremos cinco tipos de ressurreição:

1) A ressurreição de pessoas que haviam morrido, mas que ressurgiram para a mesma vida mortal, mas agora renovada (Jo 11.43,44; Hb 11.35 e Lc 7.14,15);

2) A ressurreição corporal de Jesus para a imortalidade;

3) A ressurreição futura dos cristãos para a vida eterna (1 Co 15.42,52);

4) A ressurreição espiritual dos crentes através do novo nascimento, para uma nova vida com Cristo (Cl 2.12);

5) E a ressurreição pessoal dos incrédulos para o juízo final e que acontecerá no futuro (Jo 5.29; At 24.15).

Essas duas últimas referências bíblicas são muito claras em distinguir uma ressurreição que conduz à vida eterna condenação. Sobre essa ressurreição das pessoas convertidas ao Evangelho, a Bíblia em muito a dizer, inclusive como será a natureza de seus corpos. Por exemplo, na ressurreição dos crentes, seus corpos serão incorruptíveis (1 Co 15.42), gloriosos (1 Co 15.43), poderosos (1 Co 15.43), sobrenaturais (1 Co 15.44) e iguais ao de Cristo (Fl 3.21; 1 Jo 3.2). Por outro lado, a ressurreição dos ímpios será para a vergonha e humilhação eternas (Dn 12.2; Jo 5.29).

M. J. Harris (2011, p.871) observa que um juízo universal implicará em uma ressurreição universal, mas os injustos serão ressuscitados somente no sentido de que pelo poder de Deus terão seus corpos reanimados, comparecendo perante Deus de uma forma pessoal. Em outras palavras, os incrédulos ressuscitarão, mas não terão seus corpos glorificados como os cristãos. Esse fato é observado pelo expositor bíblico W.W. Wiersbe (2006, p.395) ao destacar que os incrédulos receberão ressurreto, porém não glorificado, para que sejam julgados e sofram nesse corpo os castigos que lhe são devidos. O corpo usado para o pecado sofrerá as consequências desse pecado.



José Gonçalves é pastor em Teresina (PI), escritor, comentarista de Lições Bíblicas da Escola Dominical da CPAD e membro da Comissão de Apologética da CGADB.

Jornal Mensageiro da Paz de Novembro de 2011, Pág. 17.

* Foto publicada pelo autor do blog

JEJUAR SÓ POR BENÇÃO MATERIAL É CERTO?




“É lícito um crente jejuar apenas para pedir a Deus bens materiais?”

(Rozana Paz – Catete, SE)



Por Nemuel Kessler



O jejum é uma benção como recurso aliado da oração, uma arma secreta do crente e uma forma de demonstrar a Deus a nossa imensa necessidade da Sua ajuda e dependência que temos dEle.

Jesus disse para os discípulos: “E quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que os aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”. Jesus não estava condenando o jejum, mas a hipocrisia de se jejuar para se alcançar a aprovação pública. Os fariseus jejuavam voluntariamente duas vezes por semana, a fim de impressionar o povo por sua santidade. Jesus não condena o jejum propriamente dito, somente o jejuar com ostentação, não devendo se realizar diante dos olhos dos homens, mas diante de Deus, que vive em segredo e vê o lugar secreto,. Em Atos 13.3, vemos que, na igreja cristã, a oração tinha o apoio do jejum. Mas, a recomendação de Jesus foi que isso fosse feito discretamente.

Jejuar não é uma maneira de negociarmos com Deus o que queremos, e nem algo para parecer que somos mais espirituais que as outras pessoas. Também não significa busca por bênçãos ,materiais. Neemias, sabendo o triste estado de Jerusalém, ora a Deus, assentando-se e chorando, lamentando por alguns dias e jejuando e orando perante o Deus dos céus. O jejum está sempre vinculando à oração (Ne 1.4), eles constantemente se acompanham (Jr 14.11,12). É a oportunidade que temos de mostrar a Deus a premência de nossa necessidade declarada na oração, a nossa necessidade de passarmos um tempo com Ele, aprendendo a mansidão e gratidão “que fazem lembrar que podemos viver com muito menos e apreciar as dádivas de Deus”.

Jesus jejuou e teve a oportunidade de ensinar a respeito do jejum. Porém, muitos tomam o jejum e usam-no para tentar conseguir que Deus faça o que desejam. E muitas vezes isso se acentua de tal maneira que a pessoa pensa que, com o jejum, pode-se-ia ter o mundo, inclusive Deus, “comendo em nossas mãos”, como dizem.

O Jejum distingue-se da greve de fome, cujo propósito é adquirir poder político ou atrair a atenção para uma boa causa. Também não se trata de dieta de saúde com propósitos físicos e não espirituais o propósito central do jejum é centrar-se em Deus, concentrar-se em finalidades espirituais. Ele ajuda-nos a manter o nosso equilíbrio de vida. A obra do jejum bíblico está no reino espiritual. Lemos em atos dos Apóstolos que os líderes cristãos costumavam jejuar quando iam escolher missionários e líderes das igrejas locais. Isso se constituía num poderoso meio de buscar a orientação divina sem medo de errarem. Na verdade, o jejum vem a ser um auxílio poderoso na busca pela orientação de Deus, muito embora, por si mesmo, sendo utilizado como rito vazio, não tenha valor algum, conforme os fariseus erradamente supunham.

O jejum não garante que a oração será atendida. No caso de Davi (2 Sm 12), vê-se o registro de como lhe feriu ter feito mal diante dos olhos de Deus, tomando a mulher de seu próximo. A sentença lhe foi proferida, cuja espada jamais se afastaria de sua casa. Isso lhe custou chorar amargamente desejando que Deus preservasse a vida do filho que concebeu num relacionamento adúltero com Betseba. Não respondeu Deus a sua oração, nem honrou o jejum de Davi nesse caso específico. Mesmo quando se ora fervorosamente e em jejum, isso não significa garantia absoluta de uma resposta. Paulo, homem de oração e jejuns, não obteve resposta de cura para o “espinho na carne” que tanto lhe afligia. A resposta de Deus foi outra: “A minha graça te basta” (2 Co 12.7-10). Deus sempre é soberano para responder ou não à oração que fazemos no dever de sempre nos submetermos à Sua vontade.



Nemuel Kessler é líder da Assembleia de Deus em Parque Anchieta (RJ), escritor, administrador, membro da Casa de Letras Emílio Conde, presidente da Sociedade Bíblica Unida – SBU.

Jornal Mensageiro da Paz de Novembro de 2011, Pág. 17.

* Foto publicada pelo autor do blog

LIBERDADE DE CULTO: PODEMOS SERVIR SEM ELA



Por Gunar Berg



Não sou filósofo. Não gosto também de ser chamado teólogo. Mas, quando sou lembrado como servo, meu coração dispara. Teólogo e filósofos necessitam de algo que os servos dispensam: liberdade. De expressão. De pensamento. De culto. De tudo. Não atento contra esse princípio básico da democracia, mas não atendo a qualquer reclame que me tente convencer que nossa liberdade de culto carece de defesa. Como assim? Em que sentido? Não discordo que ela esteja sob ataque, mas a questão é que sempre esteve – e assim deve ser.

Embora pareça uma legítima bandeira da Igreja, liberdade para falar de Cristo não faz parte da Grande Comissão. Marcos 16.16 insta-nos a pregar; liberdade não é sequer insinuada ali.

Paulo dizia aos coríntios, com satisfação agora pouco compreendida, de ameaças à pregação, à vida, à liberdade. Regalava-se em que? Por que? Ora, sabia ele que não necessitamos de liberdade para servir. Para ele, e qualquer dos legítimos apóstolos do Senhor, perseguições, calúnias, distorções da verdade e mordaças não exterminavam a Igreja e não encerravam a fé, ainda que pusessem fim às vidas. O que agora é paradoxo um dia foi certeza: os reverses são os palanques sobre os quais se anuncia a Palavra.

São contraditórios o gozo e a preferência de Paulo pelas ameaças e perseguições? Pois mais despropositada é a serventia que se atribui e se devota à liberdade de culto. Não que a liberdade não seja importante, repito, mas faz-se dela o valor último pelo qual lutar, como se o fim dela acabasse com a Igreja. Do jeito que está, em breve não mais pujaremos pelo culto, mas pela liberdade somente – e apenas a nossa, egoístas que somos.

A decantada liberdade de culto está vertendo-se em culto a liberdade, e então, o que é culto virá à tona: gastamo-nos e deixamo-nos agastar por um despropósito, um desatino, um destempero. Liberdade de culto não é quesito espiritual; é, simplesmente, uma demanda conjuntural: hoje se tem; amanhã, não. É mister que seja assim. Quando foi que a Igreja de Cristo espraiou-se nas ondas da liberdade? No aprisionamento de Paulo e Silas? Nas fogueiras de cristãos em Roma? Nos decretos de morte ao Cristianismo de países asiáticos e orientais? No azorrague que lacera a carne dos missionários? Não. A Igreja chegou até aqui não graças à liberdade, mas certamente a despeito dela.

Que é o estado para que nos outorgue liberdade? Quem são os multiculturalistas para que regulem o teor de nossas pregações? Quem os congressistas acham ser para delimitar o alcance da Palavra de Deus? Não sou reacionário, incendiário ou provocativo porque não sou filósofo, pensador ou teólogo, com todo respeito. Mas, sou servo, e como servo sei: ou reaprendemos a servir sem liberdade ou não mais serviremos em verdade.

E se os templos forem fechados? Pois que sejam. E se forem incendiados? Se não há como evitar, deixe-nos queimar. Com que igreja estamos preocupados? Com a de Cristo ou as nossas? E se nos quiserem matar? Morramos, então. Não somos deste mundo! Seremos bem-aventurados por sofrer perseguição por causa da justiça, e teremos o Reino dos Céus.

Enquanto prezamos a liberdade de culto, esquecemo-nos quem somos: somos os servos de orelhas furadas. Somos aqueles que decidiram não ser livres. Somos os que optaram permanecer sob os que auspícios de seu Senhor. Somos aqueles que só sabem servir. E podemos servir sem liberdade.



Gunar Berg é pastor da Assembleia de Deus em Paulínia (SP) e professor de Teologia na Faculdade de Educação Teológica da Assembleia de Deus (Faetad).

Jornal Mensageiro da Paz de Outubro de 2011, Pág. 22.

* Foto publicada pelo autor do blog

EVANGELIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE DEUS PARA OS PRÓXIMOS 100 ANOS




Por Raul Cavalcante



“Que nenhum se perca!” – esse é o desejo do Senhor Jesus, conforme João 3.16 (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna”), e creio que este deve ser o sentimento de toda a Igreja na presente geração.

“Que nenhum se perca!”, mas, para isso, precisamos alcançar todas as faixas etárias e todas as faixas sociais. Como fazê-lo? Precisamos rever nossas estratégias evangelísticas, nos atualizando com a demanda atual para que as pessoas sejam alcançadas para Cristo.

Diante dessa necessidade e visão, a Comissão de Planos Estratégicos de Evangelismo e Discipulado da CGADB entendeu que poderíamos desenvolver um trabalho conjunto para ganhar o Brasil e o mundo, pois Deus nos deu as condições para alcançar esse alvo.

Vejamos algumas sugestões:

1) Em nível de Convenção Geral, devemos investir em um programa de televisão totalmente evangelístico, com apresentações de nossos hinos, corais, cantores e sempre um pregador de alto nível, que leve a mensagem de Cristo, e este crucificado; que leve a mensagem e pura do Evangelho, que a nossa igreja prega. Isso até mesmo elevaria ainda mais a auto estima dos assembleianos e certamente produziria uma grande pescaria, multiplicando o numero dos salvos.

2) Investir ainda mais no uso da internet, para alcançar a massa jovem e pessoas em países onde as portas estão fechadas para o Evangelho.

3) Poderíamos estabelecer mais cultos nos lares, fazendo da casa uma extensão da igreja, que ficaria mais próxima das pessoas, priorizando a comunhão, que certamente alimentaria boas oportunidades para ganhar e discipular pessoas, e integrá-las na igreja.

4) Desenvolver seminários organizados pela CGADB nos moldes do Curso de Aperfeiçoamento de Professores de Escola Bíblica Dominical (Caped), para resgatar essa cultura assembleiana de evangelizar e capacitar para o discipulado.

5) Utilizar as classes da Escola Bíblica Dominical, matriculando pessoas não crentes de todas as faixas etárias em classes, porque assim essas pessoas seriam ganhas e já discipuladas e integradas na igreja.

6) Estabelecer reuniões nas empresas, colégios, universidades e órgãos públicos, para “que nenhum se perca!”.

7) Os pastores devem buscar e priorizar nos cultos a manifestação do poder de Deus para curar, batizar no Espírito Santo e salvar e abençoar pessoas.

8) Incentivar as igrejas a fazer ações sociais, como mutirões, erguimentos de casas para idosos, creches e centros de recuperação de dependentes químicos, enfatizando a nossa sensibilidade com as causas sociais.

9) Realização de cruzadas em todo o país e cultos específicos para empresários, desviados, e outros.

10) Cada igreja em particular também deve fazer o seu próprio planejamento de crescimento, analisando suas próprias estratégias de evangelismo, fazendo estudos e pesquisas de sua área de ação, para estabelecer metas de crescimento em todas as áreas de sua ação.

11) Aproveitar o período da Copa do Mundo no Brasil em 2014 para fazermos evangelismo específico, preparando jovens com conhecimento de inglês, francês e espanhol para falar do amor de Deus nesse período, pois certamente é um trabalho que pode alcançar muitas nações e com custos reduzidos.

12) Organizar um banco de dados, com todas as informações em nível nacional, para suprir todas as demandas das igrejas e proporcionar o acompanhamento da liderança em relação ao crescimento da igreja no Brasil.

É hora de despertarmos do sono da negligência e começarmos a visualizar os campos que estão brancos para ceifar. É preciso começar a colher, pois o tempo está findando, quando ninguém poderá trabalhar. Torna-se tão urgente o cumprimento do desejo de Deus que nenhum se perca! Devemos buscar a ovelha perdida, usando os meios disponíveis e sendo criativos, para agregar essas ovelhas em nosso aprisco, porque, se não, poderá vir o mercenário, que não é pastor, e arrebatá-las.

Creio que a nossa igreja tem todas as condições de crescer ainda mias, porque Deus tem nos dado pastores, segundo o Seu coração, para trabalhar. Temos o melhor doutrinamento e os melhores costumes sociais, os quais são ensinados pela Palavra de Deus, e estamos presentes em todas as cidades, praticamente em todos os povoados e distritos e assentamentos deste país.

Fazer missões é a nossa missão. É exatamente isso que Jesus nos mandou fazer. Precisamos ter como prioridade esse tema em nossas igrejas, em nossas Convenções e em nossos orçamentos financeiros. Se o fizermos, teremos dado o passo mais importante de nossa igreja para enfrentar o segundo centenário, com a certeza de que cresceremos e estaremos preparados para o Arrebatamento da Igreja. Fazer isso é cumprir a vontade de Deus, e certamente a promessa de Jesus em Marcos 16.15-18 se cumprirá mais fortemente em nossos ministérios. “Ide por todo o mundo e pregai”, disse Jesus, prometendo em seguida: “...e estes sinais seguirão os que crerem”. Cumprir o “Ide” resulta em uma maior presença da manifestação divina em nossos cultos diários.



Pastor Raul Cavalcante Batista é líder da Assembleia de Deus em Imperatriz (MA) é presidente da Comissão de Planos Estratégicos de Evangelismo e Discipulado da CGADB.

Jornal Mensageiro da Paz de Junho de 2011, Pág. 18.

* Foto publicada pelo autor do blog

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MANTENDO O COMPROMISSO COM OS FUNDAMENTOS DOUTRINÁRIOS PENTECOSTAIS



Por Elienai Cabral



Ao chegarmos à celebração do Centenário do Movimento Pentecostal no Brasil, chegamos também a um tempo de maturidade, de avaliação, de revisão de nossa teologia. Queiramos ou não, esse é um tempo em que a igreja de Cristo deve refletir, histórica e teologicamente, sobre o seu papel no mundo em que vivemos.

Chegamos hoje ao Movimento Pentecostal moderno como um dos grandes acontecimentos do século 20. E ele surgiu com um pequeno grupo de pessoas interessadas em tornar o cristianismo anêmico e seco em um cristianismo forte e espiritual com as mesmas características da Igreja Primitiva. Esse pequeno grupo começa um movimento espiritual com ênfase na liberdade do Espírito Santo para operação de sinais e prodígios e a manifestação dos dons espirituais no século 20. Um vento espiritual soprou na Europa foi para os Estados Unidos da América do Norte, cresceu e se tornou uma força significativa dentro da cristandade.

O surgimento do Movimento Pentecostal moderno inicia-se em Janeiro de 1901, na cidade de Topeka, Kansas, EUA, quando Agnes Ozman experimentou o batismo com o Espírito Santo manifestado com o falar em línguas entre tantos outros. O movimento espiritual de caráter pentecostal vinha sendo experimentado com intensidade desde 1850, mas foi a partir da experiência da senhora Ozman, que era aluna da Escola Teológica de Charles F. Parham, chamada Charles Parham’s Bethel College, que o Movimento ganhou força. Foi nesta Escola que abriu-se no coração de Parham o desejo de conhecer mais profundamente a experiência do batismo com o Espírito Santo com o falar em línguas como evidencia externa desse batismo.posteriormente, Parham abriu uma Escola Bíblica em Houston, Texas, e foi atavés dela que surgiu o pregador do movimento de santidade (Movimento Holiness) chamado William J. Seymour pregando a mensagem pentecostal. Depois de dois anos ali, Seymour começou a realizar reuniões de oração na famosa Rua Azuza, tornando-se, a partir de então, o grande popularizador do Movimento Pentecostal. Pessoas de várias partes dos EUA e de outros países visitavam a igreja da Rua Azuza, espalhando a chama pentecostal no mundo inteiro.

A partir desse movimento, o Espírito Santo inflamou o coração de homens e mulheres, os quais passaram a levar a mensagem pentecostal pelo mundo. Foi desse modo que o Espírito Santo trouxe para o Brasil alguns homens, entre os quais Gunnar Vingren e Daniel Berg, de nacionalidade sueca, mas vindos dos EUA em 1910.

O Movimento Pentecostal moderno, portanto, tem suas raízes no final do século 19, quando cristãos desejosos por uma vida de santidade e espiritualidade plena entraram no século 20 com força total rompendo com as amarras eclesiásticas e denominacionais que impediam a operação livre do Espírito Santo nas igrejas.

Fundamentos

A palavra fundamento ganha um sentido especial na linguagem bíblica. Ela pode refletir-se a “tudo aquilo em que se assenta alguma coisa”, e pode significar “motivo, razão, base, alicerce etc”. Em ambos Testamentos, essa palavra ganha significados distintos, com linguagem literal e figurada de alicerce (Lc 6.48,49; Rm 15.20; 1 Co 3.10-12; Ef 2.20 e outros). Neste artigo, a palavra se refere aos princípios fundamentais do Evangelho e aos ensinos dos apóstolos e profetas (Hb 6.1,2 e Ef 2.20).

Da palavra fundamento deriva outra palavra que é fundamentalismo. Esta última tem servido para significar movimentos radicais, especialmente no mundo religioso. O fundamentalismo tem sido identificado como um movimento contra o liberalismo. Do ponto de vista positivo, o fundamentalismo preserva os princípios básicos da fé, para os quais se atribui a termo conservadorismo. Não é só no mundo religioso que se vê o fundamentalismo. Também existem outras formas de fundamentalismo: o cultural, o político e o religioso.

Desenvolve-se no mundo moderno uma cultura extremista e negativa quanto ao termo fundamentalismo, mas é necessário que se coloque cada coisa no seu lugar. Nas últimas décadas, por exemplo, o islamismo é apresentado pela mídia mundial como uma religiosidade extremista e violenta. Na história do cristianismo, no período da chamada “santa inquisição” da igreja romana, cometeram-se atrocidades e guerras em nome de Cristo que eram, de fato, fruto de uma espécie de fundamentalismo fanático e brutal. Entretanto, a despeito de distorções acerca dessa palavra, não podemos fugir ao fato de que o verdadeiro fundamentalismo cristão refere-se à defesa dos pontos considerados fundamentais da fé cristã.

Em relação ao pentecostalismo, nossa preocupação está, essencialmente, em preservar os fundamentos teológicos da fé pentecostal contra o espírito do liberalismo teológico e contra as influências filosóficas e místicas que deturpam a genuinidade e simplicidade do Evangelho que pregamos.

O fundamento principal da fé pentecostal

O ponto de partida para respondermos a essa pergunta está em dois textos do Novo Testamento: Mateus 16.18 e Efésios 2.20. No primeiro texto, o Senhor Jesus se identifica como “a pedra principal” sobre a qual toda a Sua Igreja seria edificada. No segundo texto, o apóstolo Paulo reforça a construção desse edifício declarando que o mesmo seria edificado sobre “o fundamento dos apóstolos e dos profetas”.

Na construção doutrinaria da igreja, as doutrinas da fé seriam edificadas sobre “o fundamento” de tudo quanto os apóstolos receberam de Cristo. Esse fundamento é a teologia cristã e sobre o mesmo todas as verdades do Evangelho de Cristo seriam construídas. Essas verdades se constituem de lementos doutrinários de nossa crença cristã. Ele é Jesus, é o que edifica e Ele mesmo é a pedra principal desse edifício. Nós os crentes, somos pedras vivas edificadas sobre Ele. No texto de Efésios 2.20, encontramos o termo “fundamento dos apóstolos e dos profetas”. Que fundamento é esse? É todo aquele material que os apóstolos receberam pessoalmente de Cristo. Não havia diferença entre o que Jesus ensinou e o que Seus discípulos passaram a ensinar, porque eles foram comissionados a ensinarem a mesma doutrina. A doutrina dos apóstolos não era a doutrina particular de Pedro, de João, de Tiago, nem, posteriormente, de Paulo ou Apolo, mas era a mesma doutrina ensinada por Jesus. Os ministros de Deus têm a missão pastoral de ensinar a mesma doutrina dos apóstolos. Ninguém tem o direito de torcer a verdade revelada nas Escrituras, mas deve construir a doutrina sobre o mesmo fundamento, sem “colocar outro fundamento além do que já está posto”.

O Movimento Pentecostal não é uma nova doutrina nem alguma invenção teológica. O Movimento Pentecostal é um movimento de renovação espiritual que existe dentro da Igreja de Cristo na Terra e que dá lugar ao Espírito Santo, que tem sido relegado por grupos cristãos, dando lugar a uma eclesiologia humanista e seca. O movimento não é outra igreja, mas é a mesma do Dia de Pentecostes procurando preservar os mesmos princípios que nortearam a Igreja Primitiva, dando lugar ao Espírito Santo para reger a Igreja de Cristo.

Quais os principais elementos do pentecostalismo?

Quando falamos de fundamento nos referimos à base de sustentação de uma construção. Em relação às doutrinas bíblicas que reagem a nossa fé e o comportamento ético cristão, nos referimos, de fato, aos elementos teológicos que são os pilares (colunas, baluartes – 1 Tm 3.15) que dão equilíbrio e sustentação às paredes (“pedras vivas” – 1 Pe 2.5) construídas para dar forma e beleza arquitetônica.

Em relação aos fundamentos doutrinários pentecostais, nos referimos aos elementos constitutivos da fé cristã, ou seja, as doutrinas principais que norteiam o autêntico pentecostalismo. Esses elementos formam o pensamento pentecostal acerca de, pelo menos, seis doutrinas principais. As demais doutrinas estão atreladas a estas seis, porque são como afluentes de um mesmo rio caudaloso. Estas seis principais doutrinas dão corpo à teologia pentecostal:

1. A Doutrina da Revelação e Inspiração plena das Escrituras, como base da fé pentecostal (2 Tm 3.14-17; Hb 4.12; 2 Pe 1.21).

2. A Doutrina da Salvação, mediante a justificação pela fé na obra expiatória de Cristo. Uma doutrina que envolve três outras tão importantes como justificação, regeneração e santificação (Rm 5.1; Tt 3.5; Jo 3.3; 1 Ts 4.3,4; 2 Co 7.1; Hb 4.12).

3. A Doutrina do Batismo com o Espírito Santo, com a evidência física do “fala em línguas espirituais”, como experiência distinta da obra regeneradora do Espírito Santo, e como uma experiência contínua desde o Pentecostes (At 2.4,38; At 11.12-17).

4. A Doutrina dos Dons Espirituais, como dotações do Espírito Santo aos crentes, para edificação da Igreja em termos de fé e unidade (Rm 12.6-8; 1 Co 7.7; 1 Co 12.1-11,28-31; Ef 4.11-13; 1 Pe 4.10,11).

5. A Doutrina da Cura Divina mediante a operação sobrenatural do Espírito Santo para curar os enfermos (Mc 16.17,18; 1 Co 12.8-10).

6. A Doutrina da Segunda Vinda de Cristo, precedida pelo Arrebatamento dos vivos e Ressurreição dos mortos em Cristo, antes da Grande Tribulação (Zc 14.5; 1 Ts 4.16,17; 1 Co 15.51-54; Ap 20.4).

Essas doutrinas formam o “fundamento da fé Pentecostal” sem menosprezar todas as demais doutrinas bíblicas. Elas, tão somente, são a maquinaria do ESPÍRITO Santo para fazer a Igreja viver e cumprir sua missão.

Ameaças corrosivas aos fundamentos

Torna-se inevitável para o chamado “pentecostalismo clássico”, ou seja, o pentecostalismo bíblico, refutar toda e qualquer ideia de doutrina que passa corroer os fundamentos do pensamento pentecostal. O apóstolo Paulo deparou-se com esse problema naqueles dias de seu ministério e, então, exortou os efésios: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si”, At 20.28-30.

Já naqueles tempos da igreja do primeiro século, os líderes enfrentavam problemas de ordem doutrinaria no seio da igreja. Eram novas doutrinas insufladas com heresias perigosas advindas do gnosticismo da época e eram cheias de persuasões que desvivam muitos cristãos da fé genuína em Cristo. Surgiram de homens malignos, que Paulo os compara a lobos cruéis que entevam no seio da igreja para destruírem as ovelhas do rebanho de Cristo. Eram pessoas sem escrúpulos e capazes de subverter crentes e obreiros imaturos com ideias bonitas, conceitos triunfalistas e a comercialização das coisas do Evangelho.

Doutrinas como confissão positiva, maldição hereditária, doutrina da prosperidade, falsa teologia da fé, utilização hipnose e regresso, sopro de poder, a unção do riso, unção do leão, unção do cordeiro, doutrina do pacto do segredo, a supervalorização de símbolos e tipos em detrimento da literatura da Palavra de Deus, a espiritualidade egolátrica etc. São problemas que enfrentamos em nossos dias. O pentecostalismo autêntico (clássico) refuta essas idéia do chamado neopentecostalismo. O pentecostalismo autêntico se firma sobre os fundamentos bíblicos da Palavra Deus e rejeita toda e qualquer ideia que esteja fora da Revelação Bíblia.

Queremos uma igreja atual que mantenha seus vínculos com a história. Queremos uma igreja contextualizada com os fundamentos da Palavra de Deus. Queremos uma igreja cheia do Espírito e que fuja dos excessos do neopentecostalismo.



Pastor Elienai Cabral é teólogo, escritor, comentarista de Lições Bíblicas da CPAD, colunista do site cpadnews.com.br e membro da Casa de Letras Emílio Conde.

Jornal Mensageiro da Paz de Junho de 2011, Pág. 26.

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CRESCER NO CONHECIMENTO SEM ESQUECER O PODER DO ALTO




Por Antonio Gilberto



“Antes crescei na graça e conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém”, 2 Pe 3.18. O apóstolo Pedro teve suas dificuldades no início da sua fé em Cristo, e também ao longo dela, como registra o Novo Testamento. Jesus, antes do calvário, chegou adverti-lo de que Satanás estava a tramar contra os Doze, inclusive ele, Pedro, para arruinar a sua fé. “Disse-lhe também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos”, Lc 22.31,32.

O texto bíblico que abre este artigo mostra-nos que na vida espiritual, do crente mais simples ao líder cristão mais destacado, o elemento basilar é a fé em Cristo, priorizada, mantida, fortalecida, purificada, renovada e, ao mesmo tempo, seguida do conhecimento de Deus.

“Crescei na graça e no conhecimento”, diz o texto sagrado. Essa ordem jamais deve ser invertida. Cuidar da nossa fé é cuidar do nosso crescente relacionamento e comunhão com Deus. Estamos falando da fé como elemento da natureza divina, como atributo de Deus (Atos 16: “... a fé que é por Ele...”; Gálatas 5.5: “... pelo Espírito da fé...”).

A fé em Deus, basilar e primacial como é na vida do cristão, deve ser seguida do conhecimento espiritual. “Criado com as palavras da fé e da boa doutrina”, 1 Tm 4.6. veja também 2 Pedro 1.5, onde o conhecimento deve seguir-se à fé. Fé sem conhecimento, segundo as Escrituras, leva ao descontrole, ao exagero, ao misticismo, ao sectarismo e ao fanatismo final e fatal. Sobre isso adverti-nos o versículo 17, anterior ao que abre o presente artigo, que os leitores farão bem em lê-lo. É oportuno observarmos que o dito versículo remete-nos claramente ao versículo 18, que estamos destacando. “Antes” é um termo conclusivo; refere-se a uma conclusão á qual se chega.

“Antes crescei” – A vida cristã normal deve ser um crescer constante para a maturidade espiritual, como mostra 2 Coríntios 3.18: “Somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”. Esse crescimento transformador deve ser homogêneo uniforme, simétrico; caso contrário virão as anormalidades com suas consequências. Lembremo-nos do testemunho do apóstolo Paulo sobre si mesmo em 1 Coríntios 13.11, e o comparemos com o depoimento bíblico de Atos 9.19-30 e 11.25-30). Um crente sempre imaturo na graça e conhecimento de Deus é também um problema contínuo para ele mesmo, para outros à sua volta e para a sua congregação como um todo. E pior ainda é quando o cristão desavisado cuida apenas de seu conhecimento secular, terreno, humano, social, e também quando cuida do conhecimento bíblico e teológico sem antes e ao mesmo tempo renovar-se no poder do Alto, o poder do Espírito Santo, que nos vem pela imesuravel graça de Deus sem suas riquezas (Ef 2.7). tudo mediante Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Crescimento do crente na graça de Deus – a graça de Deus é seu grandioso favor imerecido por todos nós pecadores. Essa maravilhosa graça divina é multiforme e abundante (1 Pe 4.10; Ef 2.7). Nosso Deus é “o Deus de toda a graça” (1 Pe 5.10). menosprezar essa inefável graça divina é insultar o Espírito Santo, “o Espírito da graça” (Hb 10.29). só haverá crescimento na graça de Deus por parte do crente se este invocá-la, apoderar-se dela pela fé e cultivá-la em sua vida. “Minha graça te basta”, disse o Senhor a Paulo quando este orava por livramento (2 Co 12.8-10).

Crescimento no conhecimento – esse conhecimento do crente na esfera da salvação, de que nos fala a Escritura, nos vem pelo Espírito Santo (Ef 1.17,18; Cl 1.9; 1 Co 12.8). Cristo é a fonte e manancial da graça de Deus (Jo 1.16,17) e também o alvo do nosso conhecimento (Fp 1.8,10). O conhecimento de Deus nos vem também pela comunhão com Ele, é obvio, sendo um meio de usufruirmos mais de Sua graça (2 Pe 1.2). Quem está crescendo na graça e no conhecimento de Deus ainda tem muito a crescer. Afirma o texto de João 1.17: “...e graça por graça...”. Se alguém estacionar no desenvolvimento de seu andar com Deus, virá o colapso. É como alguém sabiamente disse: “A verdadeira vida cristã é como andar de bicicleta; se você parar de avançar, você cai!”.

O Senhor Jesus ensinou, dizendo: “Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade libertará”, Jo 8.31,32. Não é, portanto, o conhecimento em si que liberta; ele é um meio provido por Deus para chagarmos a verdade. Há muitas igrejas com vasto conhecimento secular, teológico e bíblico, contudo repletos de dúvidas, interrogações, suposições e enganos quanto a Deus, quanto à salvação, quanto às Sagradas Escrituras etc.

Como pode o crente crescer na graça e no conhecimento de Deus – Primeiro, orando sem cessar (1 Ts 5.17; 2 Co 12.8,9; Jr 33.3). A oração é um precioso e eficaz meio de comunhão com Deus. Segundo, lendo e estudando a Bíblia continuamente (At 17.11; 1 Pe 2.2; Sl 1.2,3), e obedecendo a Deus a partir da sua Palavra (Sl 119.9-11; Jo 14.21,23). E também vivendo de modo agradável a Deus ( e somente em obediência a Deus ) (Cl 1.10; 1 Jo 3.22); testemunhando de Cristo e de Sua salvação (At 1.8; 5.42); permanecendo na doutrina do Senhor (At 2.42; Rm 6.17; 3 Jo vv.3,4); frequentando a Casa de Deus (Hb 10.25; Lc 2.37; Sl 27.4); sendo ativo no serviço do Senhor (Mt 21.28); vivendo continuamente em santidade (Lc 1.75; 2 Co 7.1); mantendo-se renovado espiritualmente (2 Co 4.17; Ef 5.18) e experimentando a progressiva transformação espiritual pelo Espírito Santo tendo Ele em nós plena liberdade para isso (2 Co 3.18).

Sinais de “meninice” (não-crescimento) espiritual – Os cristãos da igreja de corinto tiveram este problema (1 Co 3.1,2). Ver também Hebreus 5.12-14. Crianças, no sentido físico, são fáceis de detectar; no sentido espiritual, também – havendo exceções, é evidente. A criança fala muito, mas não diz nada ou quase nada. A criança, por natureza, é egoísta. Tudo sou “eu” e o todo é “meu”. A criança brinca muito e também “briga” muito. A criança normal dorme muito – e dorme em qualquer lugar! A criança gosta muito de ruído, de barulho, e geralmente no momento e no lugar impróprio para os adultos. Quanto mais barulho, mais a criança gosta! A criança gosta muito de doces (Ler Provérbios 25.16,27 e Levítico 2.11). Doces engordam, mas engordar não é crescer, e nem sempre é sinal de saúde.

A criança é muito sentimentalista. Ela vive pelo que sente. Por coisa mínima, a criança chora, amua-se e some da cena. A criança é muito crédula. Ela não discute nem questiona as coisas da vida em geral. Ela crê em tudo, sem argumentar. Ela aceita praticamente tudo sem averiguar, sem filtrar, sem discute.

A criança não gosta de disciplina. Ela não gosta de obedecer. Também a criança é fantasiosa. Ela exagera as coisas. Ela cria o seu próprio munda da fantasia para si e vive esse mundo. A criança pequena não tem equilíbrio. Não tem firmeza. Com facilidade, ela tropeça, escorrega, cai e levanta-se. A criança é imitadora. Ela, se puder, imita tudo, inclusive o ato de trabalhar dos adultos, mas tudo imitação, e às vezes machuca-se por isso. A criança, em geral, é fraca; ela não tem a resistência dos adultos. Finalmente, a criança não entende coisas difíceis, coisas de gente grande.

Essas verdades e realidades devem ser aplicadas à nossa vida cristã para vermos se estamos crescendo para a maturidade ou ainda permanecemos quais crianças incipientes e crédulas. O procedimento correto para o crente evitar um colapso na sua vida espiritual é “crescer na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

(Se você é assinante do MP e quer ler este na íntegra, acesse-o com seu código de assinante no site do jornal Mensageiro da Paz – www.cpadnews.com.br/mensageiro .php).



Pastor Antonio Gilberto é consultor doutrinário da CPAD.

Jornal Mensageiro da Paz de Junho de 2011, Pág. 17.



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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

OS VERDADEIROS E OS FALSOS PROFETAS





Por Claudionor de Andrade



Quem já não se defrontou com um falso profeta? Inescrupuloso e arrogante, joga ele a igreja contra seu pastor; leva os obreiros à desinteligência e, habilmente, induz os santos à apostasia. Alias, ele não vacila em usurpa a glória devida apenas ao Senhor da glória.

Certa vez, um desses falsos profetas enfrentou insolentemente a Jeremias. Patrocinado pelo estado e contando com a simpatia de boa parte da população, tinha aquele operário de Satanás, como objetivo, perverter os caminhos do Senhor, e desviar os filhos de Israel da verdade. Refiro-me ao soberbo e atrevido Hananias. Antes de tecermos outros comentários a seu respeito, vejamos o que é o profeta.

O que é o profeta?

1) Definição: A palavra profeta vem do hebraico nabbi. Este vocábulo, por seu turno, origina-se do verbo dabar: dizer, falar. O profeta, por conseguinte, é o homem que fala por Deus, é o porta-voz do Eterno. O vocábulo grego phophete, do qual veio a palavra portuguesa profeta, significa literalmente aquele que fala em lugar de outrem.

2) A função do profeta:

Era a função precípua do profeta proclamar os arcanos de Deus, a fim de reconduzir o povo à obediência da lei divina (Ez 33.7).

3) A prova de autenticidade do profeta:

Se o profeta predissesse alguma coisa, e esta se cumprisse, seria ele reconhecido como autentico mensageiro de Deus. Caso contrario, que fosse alijado da comunidade dos santos. Dessa forma determinava o Deuteronômio (Dt 18.21-22).

Não basta, porém, a profecia cumprir-se para o profeta ser considerado autentico (Dt 13.1-5). Isto porque, os enganadores, inspirados pelos demônios, embora não conheçam o futuro, podem, através de ardis e estratagemas, fazer com que o obvio pareça certeiro cumprimento profético. É por isso que temos de julgar as profecias e discernir os espíritos (1 Co 14.29 e 1 Jo 4.1). Vejamos, a seguir, o espírito que movia o falso profeta Hananias.

O falso profeta Hananias entra em cena

1) Quem era Hananias:

Hananais era do tipo que impressionava. Falava como profeta, tinha discurso de profeta e vestia-se como profeta. Além do mais, era ele mais dramático que os profetas de Deus. Falando somente o que o povo queria ouvir, vinha ele, genericamente, profetizando a paz. Mas, agora, eis que se apresenta com uma profecia especifica e impressionante.

2) As palavras de Hananias:

Foi no auge da crise espiritual e politica de Judá que Hananias entre em cena, perturbando o povo e opondo-se tenazmente a Jeremias. Se este exortava Judá a aceitar o julgo babilônico, como Deus o requeria, aquele, sempre politicamente correto, induzia o povo à rebelião contra o Senhor, garantindo-lhe que, passados dois anos, seriam os cativos repatriados e os tesouros do Santo Templo, devolvidos. Sua profecia jamais se cumpriu: no teste do verdadeiro profeta, estava reprovado (Dt 18.22).

Hipocritamente dramático, quebra os jugos de madeira que Jeremias levava aos ombros. Diante de toda aquela presepada, o que restava ao mensageiro do Senhor? Tendo os sacerdotes e os ministros do altar como espectadores, declara Jeremias: “Amém! Que assim faça o Senhor! Que o Senhor confirme as tuas palavras que profetizaste e torne ele a trazer os utensílios da Casa do Senhor e todos os do cativeiro da Babilônia a este lugar” (Jr 28.6).

Hananias profetizou o que o rei queria ouvir, o que o povo ansiava escutar e o que todos almejavam viesse a acontecer. Não foste, ó homem de Deus, chamado para brincares de pregador; convocou-te o Senhor para atuares como pregoeiro da justiça. O teu único compromisso é com a verdade. Se não quiserem ouvir-te, que te não ouçam. No entanto, todos haverão de saber que, entre si, esteve um autentico mensageiro divino.

3) O castigo de Hananias:

Hananias em tudo parecia profeta. A Palavra de Deus, todavia, não estava consigo. E por haver se insubordinado contra o Senhor, foi severamente punido: naquele mesmo ano veio a morrer segundo vaticinara Jeremias (Jr 28.1-17). Este é o destino daquele que, sem temor nem tremor, brinca com o nome de Deus, zombando-lhe da santidade. Lembra-te daquela profetiza que, em Tiatira, induzia os servos de Cristo ao adultério (Ap 2.20)? Ou do profeta Balaão que ensinou Balaque a colocar tropeços diante dos filhos de Israel (Ap 2.14)?

Tens tu o dom profético? Coloca-te à disposição de Deus. Deixa que Ele te use de acordo coma as necessidades da Igreja. Jamais queiras abusar do que não te pertence. Sê humilde, reconhecendo sempre, em teu pastor, a autoridade máxima da Igreja. Além do mais, os profetas de hoje já não possuem o status dos profetas da Antiga Aliança, tidos como autoridades incontestáveis da Palavra de Deus; que os profetas de hoje, por conseguinte, reconheçam o primado dos dons ministeriais sobre os espirituais.

Cuidado com os falsos profetas

Alerta-nos o Senhor Jesus que, nos últimos dias, aparecerão muitos falsos profetas que, se possível, enganarão até os mesmos escolhidos (Mt 24.11). Por isso, temos de manter-nos alertas e vigilantes, a fim de que os lobos não nos arrebatem as ovelhas. Eis alguns cuidados que haveremos de tomar.

1) A procedência do profeta:

De onde vem o pregador, o conferencista e o pretenso profeta? Busca saber se tem ele carta de recomendação; não deixes de confirmar a veracidade do documento. Cuidado com os chamados clínicos pastorais que, sob o apanágio da psicologia, se intrometem nas intimidades das ovelhas, induzindo as servas de Deus à imodéstia. Não passam os tais elementos de destruidores de lares. Toma cuidado contra os que, de igreja em igreja, levantam vultosas somas. Não permitas que o lobo te espolie a igreja.

2) A qualidade da mensagem:

O mensageiro fala a Palavra de Deus? Ou se acha em nosso meio a instalar o engano e a apostasia? Se vier com outro evangelho, que seja considerado anátema mesmo que tenha cara de anjo (Gl 1.8).

3) A pretensão do profeta:

À semelhança de Hananias, que não temeu enfrentar o homem de Deus, muitos são os profetas e profetisas que procuram dominar o pastor, o ministério e a igreja. Não aceites tais manobras! Não te deixes dominar pelas ameaças dessa gente desocupada e orgulhosa. A Igreja é para ser governada pelos dons ministeriais e não pelos dons espirituais. Servem estes apenas como suporte ao processo de edificação do Corpo de Cristo. O cajado foi entregue a ti, pastor, e não aos aventureiros que das ovelhas visam apenas a lã e a gordura.

Quem cuida das ovelhas é o pastor. E que o profeta mantenha-se em seu lugar, e respeite o anjo da igreja como a autoridade máxima do rebanho. Neste momento, cai muito bem a recomendação de Paulo: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Co 14.37).

Cuidado com os falsos profetas! Não lhes permitamos que nos devorem os rebanhos. Outrossim, não podemos desprezar as verdadeiras profecias (1 Ts 5.20), pois o Espírito Santo continua a falar através dos dons que distribui à Igreja. Equilíbrio e discernimento! Cada profecia deve ser considerada de acordo com as demandas e reivindicações da Bíblia. Nada, absolutamente nada, pode estar acima da Bíblia Sagrada - nossa única regra de fé e conduta.



Claudionor de Andrade é pastor, gerente do Departamento de Publicações da CPAD, comentarista de Lições Bíblicas de Escola Dominical e membro da Casa de Letras Emílio Conde.

Jornal Mensageiro da Paz de Março de 2008, Pág. 27.

* A foto foi publicada pelo autor do blog

BUSCANDO A EXCELÊNCIA NO MINISTÉRIO CRISTÃO



Por Eli Martins



O ministério cristão é reconhecidamente um trabalho de grandes responsabilidades. Em consequência disso, as exigências são estritas quanto à escolha e à ordenança de ministros. Algumas exigências dessa escolha transparecem quando da separação do primeiro grupo de diáconos (At 6.3).

As Assembleias de Deus no Brasil vivem um período muito fértil em sua história. Grandes multidões aceitam Jesus em nossos cultos e é crescente o numero de crentes que afluem para seminários ou cursos teológicos visando ampliar conhecimentos bíblicos e buscar maior capacitação para o ministério. Diante desses fatos, é muito apropriado enfatizarmos os requisitos essenciais para o exercício do santo ministério e quais as implicações de uma possível separação para o mesmo. São muitas as expectativas, os sentimentos, as intenções e motivações envolvidas no processo de ordenação ministerial, bem como os desafios ao serviço e comprometimento com a missão da Igreja.

Vocação ministerial

Todos os membros da igreja são vocacionados para servir a Deus através do desenvolvimento de talentos naturais e através dos dons espirituais (Ef 4.1). Tal fato é por vezes denominado de “sacerdócio universal dos crentes”. A palavra vocação tem origem no verbo grego “kaleo”, que tem sentido de “chamar”, “reclamar para si”, e “comissionamento”. Portanto, vocação significa “chamada”, “convocação” ou, de forma mais literal, “sair de si mesmo para servir aquele que chamou”. As cartas paulinas empregam a palavra “kaleo” 29 vezes, “klesis” 8 vezes e “kletos” 7 vezes, quase sempre com o sentido de vocação divina. O obreiro deve estar consciente de que o ministério é uma vocação divina eque alcançou não pelos seus próprios méritos, mas através da convicção da sua chamada por Deus (Ef 3.7; Mt 4.21).

O líder cristão deve seguir as pegadas de Cristo. Ele nos escolheu, nos chamou, nos consagrou e enviou. Quem é enviado por Cristo não está centrado em si mesmo, mas nAquele que o enviou. O enviado não se deixa guiar por suas próprias ideias, mas pelo Espírito Santo de Deus; não determina todas as coisas, mas discerne a vontade de Deus; não se impõe, mas vive em submissão; não desiste nas dificuldades, mas se apoia no Espírito Santo; não defende sua própria opinião, mas deixa o Espírito falar por ele; não se torna dono, mas servo da ação de Deus.

Vejamos outras qualidades indispensáveis ao que almeja o ministério: que tenha convicção inequívoca (At 9.15-22); que seja batizado com o Espírito Santo (At 2.4; 4.8-3); que o candidato seja dizimista convicto (Lc 14.33); que o candidato não olhe o ministério como uma profissão; que o candidato possua fidelidade aos princípios bíblicos esposados pela sua igreja (2 Tm 3.10,11,14); que o candidato não pertença a nenhuma sociedade secreta; que o candidato não seja portador de doenças mentais; que o candidato saiba relacionar-se com outros obreiros. Nesse relacionamento, é necessário respeito e consideração sem perder a sua identidade visando à cooperação e amor para o engrandecimento do Reino de Deus.

Como servos de Deus, vocacionados, consagrados e comissionados para o trabalho ministerial, somos chamados à renuncia (Mt 10.3-15), sem a qual haverá muitas dificuldades para o cumprimento do ministério. Vocação não significa concordância de Deus com os projetos pessoais, mas renuncia a projetos e expectativas pessoais e familiares para servir a Deus.

Receber o comissionamento sem olhar para trás é imperativo, pois não é digno do Reino de Deus o trabalhador que lança mão do arado e olhar para trás (Lc 9.62). É preciso ter fé para renunciar. Teologicamente, a fé é a atitude mediante a qual o homem abandona toda a confiança em seus próprios esforços para confiar em Deus; no sentido bíblico, significa crer e confiar em Deus (Hb 11.1).

Outro aspecto a ser lembrado é que a vocação e a nomeação ministerial não liberam a pessoa do estudo e da formação secular. Na escola do Reino de Deus, o aprendizado tem dia para começar, mas não para terminar. Mesmo Paulo, nas proximidades de seu martírio, ainda ansiava por rever os “livros, especialmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13). tal dedicação também se refere ao aprendizado secular, uma vez que a composição atual de nossas igrejas bem como a complexidade das relações sociais exige que obreiros possuam alguma espécie de formação generalista. É necessário que nossos aspirantes ao ministério saibam que a influencia e prosperidade de um ministério é proporcional à nossa dedicação.

A vida de oração é o nosso alicerce (Mc 11.23,24). A oração deve acompanhar a vocação, a consagração e ordenação, as nomeações e as ações ministeriais. É indispensável que os aspirantes ao ministério tenham vidas consagradas a Deus em oração. Não podemos cometer o erro de pensar que um crente que não tem uma vida de oração passará a vivê-la através do “estimulo” de uma separação para o ministério. Quando oramos, obtemos discernimento (sabemos que direção tomar).

Valor e natureza do ministério

O valor de um homem de Deus é dimensionado não apenas pelo seu discurso, mas principalmente por sua espiritualidade e aplicação dos princípios de Deus em sua própria vida.

Não há nenhum problema em alguém almejar o ministério se apresenta pré-requisitos que habilitam o candidato: a família respalda o ministério do obreiro, há disciplina pessoal, organização pessoal, pontualidade, vida financeira equilibrada, habito regular de estudar a Bíblia etc. o “afrouxamento” nesses requisitos poderá refletir-se num fracasso espiritual e ministerial.

Paulo coloca-se em varias ocasiões como um modelo de disciplina a ser observado (1 Co 9.26,27; Fp 4.9; 2 Tm 3.10-14). Vivemos em dias de profundas transformações e as necessidades humanas se tornam ainda mais prementes diante dos falsos ensinos, do materialismo, do consumismo desenfreado, da exploração pelos poderosos, da falsa segurança representada por uma vivencia de pura aparência e, sobretudo, por uma religiosidade meramente externa.

A Igreja é desafiada frente ao descompromisso e ao esfriamento da fé e do amor como cumprimento do tempo do fim. Faz-se necessário um comprometimento ainda maior, uma dedicação ainda mais sacrificial. É preciso ser destemido e fazer cumprir a chamada ministerial perante tamanhos desafios.

Os ministros são usados por Deus para a dedicação da igreja, foram instituídos pelo próprio Senhor (Ef 4.11,12) e não devem ser depreciados, nem idolatrados. É através deles que Deus move os corações dos homens. Então, creiamos que Deus nos ensina pela sua Palavra, externamente por meio dos seus ministros e internamente pelo mover que opera nos corações dos seus eleitos para fé pele Espírito Santo; portanto, devemos atribuir a Deus toda a gloria por todo esse beneficio.

No que diz respeito à sua natureza, os ministros são remadores, cujos os olhos estão fixos no timoneiro; portanto, são homens que não vivem para si mesmos ou segundo sua própria vontade, mas para os outros. Eles são “despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1). dentre seus deveres estão o ensino da Palavra e a administração eclesiástica, desdobrados em diversas tarefas, desde a ação publica, na liderança dos cultos e pregação, até as ações particulares, descritas pelos verbos ensinar, exortar, estimular, consolar, confirmar, corrigir reconduzir, levantar, convencer a igreja unida, evangelizar e participar em atividades de cunho social.



Pastor Eli Martins é líder da Assembleia de Deus em São Carlos (SP).

Jornal Mensageiro da Paz de Outubro de 2011, Pág. 21.

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ASSEMBLEIA DE DEUS, COMPORTAMENTO E VALORES DE UMA IGREJA CENTENÁRIA





Por Elinaldo Renovato de Lima



Quando a Assembleia de Deus no Brasil completa 100 anos, é altamente gratificante vê-la buscando fazer uma avaliação de seu posicionamento, em meio ao contexto eclesiástico, social, institucional e como organização, perante a sociedade, face seus elevados objetivos e sua insigne missão, concedida pelo Senhor Jesus Cristo. Entendemos ser oportuno enfocar o tema desse artigo a partir de três perguntas, que são bastante conhecidas no meio filosófico, quando aplicadas ao homem, à sua origem, ao desenvolvimento e ao destino.

Assembleia de Deus nos seus primórdios

Oriunda de uma matriz ultraconservadora de influência europeia, os pioneiros da AD no Brasil imprimiram, na mente e no comportamento dos fieis que aceitavam a Cristo em meio ao avivamento pentecostal, um estilo de vida altamente recatado, pleno de zelo e dedicação. Era um comportamento que deles se esperava e se cobrava até rigor excessivo.

Era seus primórdios, de certa forma, não havia diferenciação entre comportamento, usos, costumes e doutrina. Quem aceitava a Cristo tinha que mudar, não apenas a forma de pensar, mas todo o seu comportamento, que incluía a maneira de vestir-se – os usos de adereços, por parte das mulheres; e os homens, via de regra, trajavam-se de modo muito sóbrio, tendo em vista que se levava a sério essa questão. Não havia diferença entre doutrina e costume. Tudo era doutrina.

Uma reação ao liberalismo religioso

A História da Igreja registra diversos movimentos, em todo o mundo, com características pentecostais. Tanto na Europa como nos Estados Unidos, grupos de cristãos passaram a ansiar por uma mudança de caráter espiritual no seio das igrejas. Ansiava-se ver o poder de Deus operando de modo marcante e maravilhoso. A fundação da Assembleia de Deus no Brasil deu-se nesse terreno fértil do fervor, em busca de mudanças na vida dos cristãos.

Características comuns se verificam nessa busca: um intenso desejo de buscar a presença de Deus; fervor na evangelização; retorno aos princípios bíblicos que norteiam a Igreja Cristã; a busca dos dons espirituais, incluindo os dons de curar, de operação de maravilhas; a busca do batismo com o Espírito Santo, com línguas estranhas; a preocupação com a santidade em face da iminente Vinda do Senhor Jesus.

Os efeito da doutrina pentecostal eram visíveis nas vidas dos convertidos à fé cristã. A santidade não era vista só em termos de doutrina, mas também em termos de usos e costumes, os quais caracterizavam, aos olhos dos estranhos, que os pentecostais eram um povo diferente “por dentro e por fora”. Com tais características, os crentes assembleianos eram tachados de “bíblias”, de “bodes”, de “capas verdes” e de “fanáticos” – no caso desse último adjetivo, não só por parte dos romanistas, mas às vezes, pelos crentes de outras denominações.

Para os primeiros crentes que aceitaram o Movimento Pentecostal na Assebleia de Deus, ser crente era ser salvo, e ser salvo implicava ser santo em toda a maneira de viver, como diz Pedro (1 Pe 1.15). Se alguém aceitava a Cristo, tinha que mostrar logo, de saída, que aceitava submeter-se a regras de conduta rígidas e muitas vezes formalistas.

Os crentes eram conhecidos, em quaisquer lugares, pelo seu testemunho e pela sua aparência externa. Os homens usavam sempre cabelos curtos, como diz a Bíblia: “Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o varão ter cabelos crescidos?”, 1 Co 11.14. Era impossível ver um jovem ou um do sexo masculino usando cabelos longos, como não é raro se ver nos dias presentes em muitas igrejas locais.

De igual modo, era verdadeiro sacrilégio ou pecado grave a mulher tosquiar-se, deixando seu cabelo ser cortado curto. A Bíblia era citada com grande autoridade: “Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”, 1 Co 11.15. As mulheres, em certo tempo, tinham que trajar-se de modo rigorosamente simples, de tal forma que não poderiam mostras até mesmo parte de suas pernas; era moda o traje com gola alta, apertada no pescoço, mesmo que o clima não recomendasse esse tipo de vestuário. Tudo em nome da santidade.

Tendo em vista a visão que os lideres da igreja tinham nos primeiros tempos das Assembleias de Deus no Brasil, qualquer desvio de conduta, em termos de comportamento, de usos e costumes seria punido rigorosamente, com pena disciplinar, aplicada publicamente perante a comunidade na igreja local. Inúmeros e incontáveis casos ocorreram de pessoas que foram privadas da comunhão da igreja por causa de pequenas transgressões às normas de comportamento, ainda que alguns desses desvios não tivessem a condenação expressa da Bíblia. Esses excessos eram fruto do zelo exacerbado que os lideres tinham em cumprir os preceitos éticos da Bíblia Sagrada. Santidade era palavra de ordem do dia, em qualquer congregação. Não se aceitava que a santidade fosse apenas um estado de espirito. Tinha que ser um estado de prática, de vivência.

Em algumas igrejas, membros chegaram a ser punidos porque possuíam um receptor de rádio em suas casas. Em anos não tão remotos, de igual modo, pessoas foram excluídas da comunhão da igreja porque tiveram a ousadia de ter um aparelho de TV (às vezes, preto e branco). Em certas igrejas, uma mulher não podia andar de bicicleta ou dirigir um automóvel por isso não se bem visto pela comunidade. Era uma visão radicalista da vida social e eclesiástica. Um excesso.

Perspectivas

Com o passar dos anos, mudanças foram ocorrendo no meio das Assembleias de Deus no Brasil. Dentre essas, podemos destacar algumas, que tiveram (e têm) influencia na evolução dos comportamentos e valores dos fiéis: surgimento de obreiros com nível intelectual mais elevada; surgimento de membros e congregados possuidores de melhores níveis de instrução; melhoria no nível econômico e social dos membros as igreja; dissenções e rupturas no meio da denominação (mais igrejas com o mesmo nome); abrandamento da visão conservadora em termos de usos e costumes; falta de maior ênfase na Palavra e na santidade.

Não temos a pretensão de profetizar sobre o futuro da Assembleia de Deus no Brasil. No entanto, algumas evidências nos mostram que poderá haver dois cenários, envolvendo a denominação: se houver a continuidade na ênfase na vida de santidade, como característica indispensável à solidez dos fundamentos cristãos; se houver a valorização dos dons espirituais, não só em termos doutrinários, mas, acima de tudo, na prática da vivência dos membros e congregados; se houver a busca do Batismo com o Espírito Santo, conforme a Palavra de Deus; se houver a continuidade da ênfase na evangelização e no discipulado genuíno, e nas missões; se houver a prática do amor de Cristo na vida dos crentes; se houver a manutenção dos bons usos e costumes, com base na Palavra de Deus, sem fanatismo e radicalismos; se houver o crescimento, não só na graça, mas no conhecimento, através do ensino da Palavra de Deus; se houver uma liderança comprometida com o Reino de Deus, e não meramente com interesses da política eclesiástica, então podemos antever um futuro ainda mais brilhante para a Assembleia de Deus no Brasil, tanto em termos espirituais, como em termos sociais e numéricos.

No entanto, se não houver as características acima citadas, poderemos ver o enfraquecimento e a decadência da AD brasileira, que tem sido a maior denominação evangélica da Brasil e uma das maiores do mundo. Deus poderá levantar outra igreja que ocupará o espaço que foi concedido a Assembleia de Deus no Brasil. Que esta última hipótese não venha jamais se concretizar. Maranata!



Pastor Elinaldo Renovato de Lima é líder da AD em Parnamirim (RN), comentarista de Lições Bíblicas da CPAD, escritor e membro da Casa de Letras Emílio Conde.

Jornal Mensageiro da Paz de Junho de 2011, Pág. 24.

* A foto foi publicada pelo autor do blog