Por Valdemir Pires Moreira
Introdução
Uma das maneiras de interpretar retamente as Sagradas Escrituras é buscar dentro de seu texto e contexto o real significado das palavras. Para que em seguida possamos aplicá-las ao nosso dia a dia. Vejamos os significados nos tempos bíblicos, do sal e da luz no texto de Mateus 5.13-16.
O Sal
αλας = halas = sal
Na antiguidade o sal possuía um valor muito grande. Os gregos costumavam dizer que o sal era divino. Os romanos, em uma frase que em latim era algo como uma das rimas comerciais da atualidade, diziam: “Nada é mais útil que o sol e o sal” (Nil utilis sole et sale).
Os romanos diziam que o sal era o mais puro do mundo porque procedia das duas coisas mais puras que existem: o sol e o mar. O sal é a oferenda mais antiga dos homens aos deuses, e até o final do culto sacrificial judeu toda oferenda era acompanhada de um pouco de sal (Lv 2.13; Nm 18.19; Ed 6.9; Ez 43.24).
Usava-se o sal para impedir que os mantimentos, e outras coisas, apodrecessem ou se corrompessem, para deter o processo de putrefação. Plutarco diz tudo isto de uma maneira extremamente curiosa: “A carne – afirma – é um corpo morto, e forma parte de um corpo morto, e se for deixada entregue a si mesma muito em breve perde a frescura; mas o sal a preserva e impede sua corrupção”. Portanto, segundo Plutarco, o sal é como uma nova alma inserida no corpo morto. (Comentário Bíblico Barclay do Novo Testamento)
O sal era tão valioso na época do Novo Testamento que os soldados romanos frequentemente recebiam os seus salários em sal. Ele era usado como condimento, como conservante, como fertilizante e até mesmo como remédio. (Comentário Bíblico Histórico Cultural do Novo Testamento – Lawrence O. Richards – CPAD).
No tempo de Jesus, o sal (obtido às margens do mar Morto ou de pequenos lagos na beira do deserto da Síria) facilmente adquiria um gosto insosso e mofado por causa da mistura maior de gesso ou restos de plantas. Por isso não podia ficar muito tempo armazenado. (Evangelho de Mateus, Comentário Esperança – Fritz Rienecker).
O talmude mostra que sal que não era puro e útil para ser usado nos ritos dos sacrifícios (que eram oferecidos com sal), era lançado nos degraus e declives ao redor do templo para impedir que o terreno se tornasse escorregadio, e assim era pisado pelos homens. Também houve instancias do uso do sal na pavimentação de estradas. Assim também, a religião sem autenticidade dificilmente tem o uso digno para os discípulos de Jesus ou para o mundo em geral. (O NT comentado versículo por versículo – R.N. Champlin – Hagnos).
A Luz
φως = phos = luz
As cidades antigas eram construídas com calcário branco, e desta forma reluziam com a luz do sol. Lâmpadas eram mantidas acesas durante toda a noite, dispostas em lugares altos. As duas imagens nos lembram de que a “luz” não deve ficar escondida. Cristo deixa clara sua analogia. Os atos justos dos cidadãos são as luzes que fazem o reino visível a todos. (Comentário Bíblico Histórico Cultural do Novo Testamento – Lawrence O. Richards – CPAD).
O interior das casas palestinenses era muito escuro, pois tinham apenas uma abertura circular, de uns trinta ou quarenta centímetros de diâmetro, como única fonte de iluminação durante o dia. As lâmpadas que se usavam eram recipientes de barro, com a forma de molheiras, cheias de azeite no qual flutuava a mecha.
Antes de existissem fósforos não era muito fácil reacender um abajur quando apagava. Quase sempre o abajur estava colocado sobre um candelabro, que na maioria dos casos não era mais que um tronco de madeira rusticamente trabalhado. Mas quando se saía da casa, por razões de segurança, o abajur era colocado, aceso, debaixo de uma vasilha, também de barro; deste modo se assegurava que não produziria um incêndio durante a ausência dos donos de casa. A missão primitiva da luz do abajur era ser vista por todos.
Quando há algum perigo no caminho, e é de noite, acende-se uma luz para nos advertir e fazer com que nos detenhamos. Muitas vezes o dever do cristão é advertir a outros do perigo que os espreita. Isto é muito delicado, e às vezes é tremendamente difícil saber como transmitir a advertência para que produza o bem desejado; mas uma das tragédias mais amargas é quando um jovem, especialmente, aproxima-se de nós e nos diz: "Eu nunca teria me encontrado na situação em que estou se alguém me tivesse advertido a tempo do perigo."
Diz-se que Florence Allshorn, a famosa professora, diretora de escola e mística cristã, quando tinha a obrigação de repreender a alguma de suas alunas, o fazia "com seu braço sobre os ombros da transgressora". Se transmitirmos nossas advertências sem nos zangar nem nos mostrar irritados, sem a vontade de ferir, sem uma atitude crítica ou condenatória, mas com amor, obteremos nosso objetivo. A luz que fica visível, a luz que adverte do perigo, a luz que indica o caminho, estas são as classes de luz que deve ser o cristão. (Comentário Bíblico Barclay do Novo Testamento)
Na terminologia dos rabinos, vemos que a “luz” se refere a Deus, a Israel, à Torah e a outros elementos importantes de sua religião. Davi foi chamado de Luz de Israel (2 Sm 21.17). E os seus descendentes são designados luzes em 1 Rs 11.36; Sl 132.17; Lc 2.32.
A passagem de Levíticos 14.3 tem uma interessante citação que não difere do uso que Jesus deu aqui à luz. “Sede luzes de Israel, mais puros que todos os gentios...Que farão todos os gentios, se fordes obscurecidos por transgressões?” A luz, à semelhança do sal, deve ser útil. A luz deve brilhar livremente, sem qualquer empecilho.
Leão Tolstoi queixou-se de que os cristãos, na Rússia de seus dias, deixavam-no sem convicção e inabalável. Disse que somente suas “ações”, e não suas palavras, poderiam modificar os temores da pobreza, da enfermidade e da morte que o perseguiam. Orígenes relata uma história diferente sobre os crentes de seus dias, pois suas vidas, e não suas palavras eram o seu testemunho – invencível. (O NT comentado versículo por versículo – R.N. Champlin – Hagnos).
Fontes:
Comentário Bíblico Barclay do Novo Testamento
Comentário Bíblico Histórico Cultural do Novo Testamento – Lawrence O. Richards – CPAD
Evangelho de Mateus, Comentário Esperança – Fritz Rienecker
O NT comentado versículo por versículo – R.N. Champlin – Hagnos