Por José Gonçalves
A apostasia era algo bem
real no reino do Norte e estava espalhada por toda parte. Na verdade a palavra apostasia
significa, segundo os expositores, abandono da fé ou mudar de
religião. (BROMILEY, Geoffrey. International
Bible Encyclopedia. Books for the Ages, OR, 1997).
Foi exatamente isso que
os israelitas estavam fazendo. Estavam abandonando a adoração devida ao Deus
verdadeiro para seguirem aos deuses cananeus. Estavam trocando o jeovismo pelo
baalaismo. Em o Novo Testamento
observamos que os cristãos. São advertidos sobre o perigo da apostasia! Na
epistola aos Hebreus o autor coloca a apostasia como um perigo real e não
apenas como uma mera suposição (Hb 6.1-6). Se o cristão não mantiver a
vigilância é possível sim que ele venha a naufragar na fé.
Em um artigo que escrevi
para a revista Ensinador Cristão (CPAD), fiz uma exposição do texto de
Hebreus 6.1-6, como creem as duas principais escolas teológicas — a calvinista
e arminiana. John MacArthur em sua Bíblia de Estudo MacArthur, que
reflete a posição calvinista, comenta a passagem de Hebreus 6.4-8 da seguinte
forma:
“A frase ‘uma vez foram
iluminados’ frequentemente se toma como uma referência a cristãos, e a advertência
que a acompanha se toma como uma indicação do perigo de perder a sua salvação
se ‘recaíram’ e ‘crucificaram de novo para si mesmo o Filho de Deus’. Pelo que
não há menção de que sejam salvos e não são descritos com nenhum termo que se
aplique unicamente a crentes (tais como santo, nascido de novo, justo ou
santos). Este problema emana a partir de uma identificação imprecisa da condição
espiritual daqueles aos quais o autor está se dirigindo. Neste caso, eram incrédulos
que haviam chegado ao ponto de ter uma salvação genuína. Em 10.26, faz-se referência
uma vez mais a cristãos apóstatas, não a crentes genuínos de quem frequentemente
se pensa que perdem sua salvação por seus pecados” (MCARTHUR, Jonh. Biblia de Estudio MacArthur. Ed. Porta Voz, Grand Rapids, Michigan, 2004).
O argumento de MacArthur
é bem construído, mas apresenta alguns problemas de natureza exegética. Daniel B.
Pecota, teólogo de tradição pentecostal, observa que no Novo Testamento
encontramos apoio para a doutrina da segurança do crente, todavia não como
querem os calvinistas extremados. Ele destaca, por exemplo, passagens bíblicas
que mostram que nada de tudo quando Deus deu a Jesus se perderá (Jo 6.38-40);
Que as suas ovelhas jamais perecerão (Jo 10.27-30); Jesus orou para que Deus protegesse
os seus seguidores (Jo 17.11); Somos guardados por Cristo (Jo 5.18); Que o Espírito
Santo é o selo de garantia da nossa salvação (Ef 1.14); O seu poder nos
guardará (1 Pe 1.5) e que o Deus que habita em nós é maior do que qualquer
coisa fora de nós (1 Jo 1.4).
Por outro lado, a Bíblia
de Estudo Pentecostal, ao comentar a mesma passagem bíblica de Hebreus
6.4-8, diz: “Nestes três versículos (Hb 6.4-6) o escritor de Hebreus trata das
consequências da apostasia (decair da fé). Esta palavra (recairam, gr.
parapesontas, de parapipto) é um particípio aoristo e deve ser traduzido no
tempo passado — literalmente: “tendo recaído”. O escritor de Hebreus apresenta
a apostasia como algo realmente possível.” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD).
Daniel B. Pecota observa
ainda que os calvinistas desconsideram dezenas de passagens bíblicas que se
contrapõem a teoria de “uma vez salvos para sempre salvos”. Observa-se que os
teólogos da tradição calvinista ou reformada fazem dezenas de contorções
teológicas para fundamentar suas convicções. John MacArthur, como já vimos,
tenta anular a possibilidade de o crente vir a perder a sua salvação
argumentando que as pessoas citadas na epístola aos Hebreus 6 não eram crentes
genuínos ou que eram incrédulos. Mas como poderia o autor falar da
possibilidade de alguém perder algo que nunca teve? Por outro lado, Millard
Erickson, renomado expositor bíblico, também de tradição calvinista, argumenta
que o autor fala de uma “apostasia” apenas hipotética! Ele argumenta que o
autor diz que poderíamos apostatar, porém, mediante o poder de Cristo para nos
conservar, isso não vai acontecer. Se é uma possibilidade que não existe, então
por que o autor falaria dela? Um argumento que se autoanula!
Há dezenas de passagens bíblicas
que, de fato, mostram que alguém pode apostatar ou perder a sua salvação.
Jesus, por exemplo, diz que o amor de muitos esfriara (Mt 24.12,13). Ele
adverte que aqueles que olham para trás são indignos do reino (Lc 9.62).
Adverte-nos também a nos lembrarmos da mulher de Ló (Lc 17.32). O Senhor
advertiu ainda que se alguém não permanecer nEle será cortado (Jo 15.6). Paulo,
o apóstolo da graça, adverte que podemos cair da graça (G15.4). Ele ainda
lembra-nos de que alguns naufragaram na fé (1 Tm 1.19) e que outros abandonarão
a fé (1 Tm 4.1).
Para Paulo, aquele que
negar o Senhor será negado por Ele (2 Tm 2.12). E Pedro cita aqueles que
escaparam da corrupção do mundo pelo conhecimento do Senhor Jesus Cristo e que
depois se desviaram. Todos esses textos mostram a possibilidade real, e não
apenas hipotética, de alguém vir a perder a salvação. Como se desencadeia esse
processo: 1) O cristão deixa de levar a serio as advertências da Palavra (Lc
8.13; Jo 5.44,47); 2) Quando o mundo passa a ser mais importante do que o Reino
de Deus (Hb 3.13); 3) Uma tolerância para com o pecado (1 Co 6.9,10); 4) Dureza
do coração (Hb 3.8,13); e 5) Entristecer o Espírito Santo deliberada e
continuamente (Ef 4.30). (Veja o livro: Teologia
Sistemática: uma perspectiva pentecostal (HORTON,Stanley M. CPAD, Rio de Janeiro).
Um mal evitável
A apostasia, portanto, é
uma real possibilidade, mas não devemos nos centrar nela, mas na graça de Deus.
Ainda ao tratar desse assunto, a Bíblia de Estudo Pentecostal observa
que, embora seja um perigo para todos os que vão se desviando da fé e se
apartam de Deus, a apostasia não se consuma sem o constante e deliberado pecar
contra a voz do Espírito Santo. As Escrituras afirmam com clareza que Deus não
quer que ninguém pereça (2 Pe 3.9) e declaram que Ele receberá todos que já
desfrutaram da graça salvadora, se arrependidos, voltarem para Ele (cf. Gl 5.4;
2 Co 5.1-11; Rm 11.20-23; Tg 5.19,20). Fica a advertência bíblica para nós:
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações (Hb 3.7,8,15;
4.7).
Texto extraído do livro: Porção Dobrada, uma analise bíblica, teológica e devocional sobre os
ministérios proféticos de Elias e Eliseu - José Gonçalves, págs. 19-23 –
CPAD.