Por
Ciro Sanches Zibordi
Não
há como esconder os transtornos que ocorrem na igreja evangélica,
principalmente nos âmbitos da liturgia e da pregação. Alguns líderes têm
preferido ignorar as situações que causam incômodos, desarranjos,
contrariedades, decepções, contratempos, como a prevalência de doutrinas falsas
e práticas estranhas em nosso meio. Outros optam pela tolerância, permanecendo
em silencio. Entretanto, a Palavra de Deus assevera: “Na verdade, que já os
fundamentos se transtornam; que pode fazer o justo?”, Sl 11.3. Neste artigo,
meditando nessa pergunta do salmista, relacionarei alguns transtornos de
fundamentos e apresentarei soluções bíblicas.
O
que são os fundamentos? A palavra “fundamento” diz respeito ao conjunto de
regras e princípios, a partir dos quais se pode fundar ou deduzir um sistema,
um agrupamento de conhecimentos. O termo alude, nas Escrituras,
figurativamente, os princípios fundamentais do Evangelho (Hb 6.1-2) e os
ensinos dos apóstolos e profetas (Ef 2.20). Em outras palavras, são as
doutrinas, as ordenanças, os mandamentos, os princípios e os procedimentos
devidamente embasados na Palavra de Deus.
É
lamentável o que vem acontecendo no meio evangélico. Muitas igrejas estão
abandonando ou negociando os fundamentos, como se eles não tivessem nenhuma
importância. A Bíblia diz que Deus habita entre os louvores e que o culto
coletivo da igreja abarca: salmos, doutrina, revelação, língua e interpretação
(Sl 22.3 e 1 Co 14.26). Com base nessas verdades, temos o fundamento de que,
numa parte (apenas numa parte) do culto que agrada ao Senhor, devem ser
entoados louvores. Mas, o que tem acontecido em muitas igrejas? Temos visto uma
apresentação sem-fim de cantores, duplas e conjuntos, como se o culto fosse um
show de calouros! Afinal, Deus habita entre os louvores ou entre os cantores?
De
acordo com as Escrituras, é nosso dever pregar o Evangelho, a fim de que vida
sejam salvas e maravilhas aconteçam (Mc 16.15-20). Isto é um fundamento. Mas, o
que vemos hoje? Milagreiros ocupam os púlpitos das igrejas, não para pregar o
Evangelho, e sim para contar “testemunhos”, muitos deles contestáveis. Pregam
os supostos efeitos do Evangelho, e não o Evangelho, a fim de cativarem o
público. Muitas reuniões, nas igrejas, têm sido preparadas e realizadas para
satisfazer o ser humano. É claro que o Senhor Jesus nos abençoa nos cultos
coletivos, porém a finalidade deles, como a sua própria definição sugere,
deveria ser cultuar a Deus.
Em
todo o livro de Salmos e em várias outras partes das Escrituras, vemos que, nos
cultos, devemos cantar louvores. Isto é, temos de glorificar a Deus, dando-lhe
graças por todas as bênçãos que Ele tem derramado sobre a nossa vida (Sl
103.1-2). Todavia, a maioria dos “louvores” de hoje é voltada para a vitória do
crente, haja vista os interesses comerciais de cantores, gravadoras, lojas e
etc. daí a grande ênfase às promessas, ignorando-se que a Bíblia é também um
Livro de mandamentos e princípios. O que podemos fazer ante esse quadro
aparentemente irreversível?
Sabemos
que o Senhor Jesus é o fundador e o fundamento da Igreja, estando Ele,
portanto, acima dela e de todas as igrejas locais (Mt 16.18 e 1 Co 3.11). Isto
é um fundamento. Mas, hoje, alguns (ou muitas?) igrejas e seus pastores têm
sido mais valorizados do que o Sumo Pastor e seu Corpo. Não bastassem os
programas “evangélicos” em que pessoas testemunham: “Depois que eu conheci a
igreja tal, a minha vida mudou”, agora muitas denominações disputam para ver
qual é a mais atraente. “Igrejas tal: aqui o milagre acontece” ou “Uma igreja
modelo, um modelo de igreja” são alguns dos slogans adotados por líderes que
perderam a visão do Reino de Deus.
Na
mídia, vemos homens que já defenderam a verdade com intrepidez, verdadeiros
profetas do Altíssimo, os quais outrora se levantavam contra movimentos que
torcem o Evangelho, como o G-12, agora defendendo-os e se associando a eles por
puro interesse comercial (2 Pe 2.3; 1 Tm 6.9-10 e Ef 5.5). Antes, eles se
opunham à falaciosa Teologia da Prosperidade e aos desvios na área da batalha
espiritual, mas agora se tornaram os principais defensores dessas e de outras
doutrinas falsificadas.
A
Palavra de Deus afirma que o pregador divinamente chamado deve falar a respeito
do Senhor Jesus e de sua gloriosa obra (1 Co 2.1-5). No entanto, o que acontece
em grandes congressos de algumas igrejas evangélicas? Os pregadores convidados
são aqueles capazes de atrair multidões, mesmo que eles não tenham compromisso
com a Palavra de Deus e até propaguem heresias, modismos e maus costumes. E os
fundamentos? Ora, quem está preocupado com isso? Afinal, o mais importante é
juntar multidões e garantir uma boa arrecadação, com a qual a igreja pagará o
alto cachê das celebridades convidadas e ainda ficará com um bom dinheiro em
caixa!
Transtornam-se
os fundamentos. Mas, como justos, podemos orar pela igreja brasileira, pelos
líderes, pregadores, ensinadores e cantores, a fim de que não mercadejem o
Evangelho, como muitos têm feito (2 Co 2.17). A oração feita por um justo pode
muito em seus efeitos (Tg 5.16). Preguemos também a verdade, nada temendo (Ez 2
e At 7). Afinal, a Palavra de Deus assevera: “Conjuro-te (...) que pregues a
palavra, instes a tempo e fora de tempo (...) Porque virá tempo em que não
sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores
conforme as suas próprias concupiscência; e desviarão os ouvidos da verdade,
voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo...”, 2 Tm 4.1-5.
Ciro Sanches Zibordi é pastor na AD de Cordovil, Rio de
Janeiro (RJ), e co-autor de Teologia Sistemática Pentecostal (CPAD) .
Jornal
Mensageiro da Paz de Dezembro de 2008, Pág. 16.
* Foto publicada pelo autor do blog
Fico feliz pela defesa dos respectivos valores.
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