sexta-feira, 8 de março de 2013

O QUE FAZER QUANDO OS FUNDAMENTOS SE TRANSTORNAM?


 
 
Por Ciro Sanches Zibordi

 
Não há como esconder os transtornos que ocorrem na igreja evangélica, principalmente nos âmbitos da liturgia e da pregação. Alguns líderes têm preferido ignorar as situações que causam incômodos, desarranjos, contrariedades, decepções, contratempos, como a prevalência de doutrinas falsas e práticas estranhas em nosso meio. Outros optam pela tolerância, permanecendo em silencio. Entretanto, a Palavra de Deus assevera: “Na verdade, que já os fundamentos se transtornam; que pode fazer o justo?”, Sl 11.3. Neste artigo, meditando nessa pergunta do salmista, relacionarei alguns transtornos de fundamentos e apresentarei soluções bíblicas.

O que são os fundamentos? A palavra “fundamento” diz respeito ao conjunto de regras e princípios, a partir dos quais se pode fundar ou deduzir um sistema, um agrupamento de conhecimentos. O termo alude, nas Escrituras, figurativamente, os princípios fundamentais do Evangelho (Hb 6.1-2) e os ensinos dos apóstolos e profetas (Ef 2.20). Em outras palavras, são as doutrinas, as ordenanças, os mandamentos, os princípios e os procedimentos devidamente embasados na Palavra de Deus.

É lamentável o que vem acontecendo no meio evangélico. Muitas igrejas estão abandonando ou negociando os fundamentos, como se eles não tivessem nenhuma importância. A Bíblia diz que Deus habita entre os louvores e que o culto coletivo da igreja abarca: salmos, doutrina, revelação, língua e interpretação (Sl 22.3 e 1 Co 14.26). Com base nessas verdades, temos o fundamento de que, numa parte (apenas numa parte) do culto que agrada ao Senhor, devem ser entoados louvores. Mas, o que tem acontecido em muitas igrejas? Temos visto uma apresentação sem-fim de cantores, duplas e conjuntos, como se o culto fosse um show de calouros! Afinal, Deus habita entre os louvores ou entre os cantores?

De acordo com as Escrituras, é nosso dever pregar o Evangelho, a fim de que vida sejam salvas e maravilhas aconteçam (Mc 16.15-20). Isto é um fundamento. Mas, o que vemos hoje? Milagreiros ocupam os púlpitos das igrejas, não para pregar o Evangelho, e sim para contar “testemunhos”, muitos deles contestáveis. Pregam os supostos efeitos do Evangelho, e não o Evangelho, a fim de cativarem o público. Muitas reuniões, nas igrejas, têm sido preparadas e realizadas para satisfazer o ser humano. É claro que o Senhor Jesus nos abençoa nos cultos coletivos, porém a finalidade deles, como a sua própria definição sugere, deveria ser cultuar a Deus.

Em todo o livro de Salmos e em várias outras partes das Escrituras, vemos que, nos cultos, devemos cantar louvores. Isto é, temos de glorificar a Deus, dando-lhe graças por todas as bênçãos que Ele tem derramado sobre a nossa vida (Sl 103.1-2). Todavia, a maioria dos “louvores” de hoje é voltada para a vitória do crente, haja vista os interesses comerciais de cantores, gravadoras, lojas e etc. daí a grande ênfase às promessas, ignorando-se que a Bíblia é também um Livro de mandamentos e princípios. O que podemos fazer ante esse quadro aparentemente irreversível?

Sabemos que o Senhor Jesus é o fundador e o fundamento da Igreja, estando Ele, portanto, acima dela e de todas as igrejas locais (Mt 16.18 e 1 Co 3.11). Isto é um fundamento. Mas, hoje, alguns (ou muitas?) igrejas e seus pastores têm sido mais valorizados do que o Sumo Pastor e seu Corpo. Não bastassem os programas “evangélicos” em que pessoas testemunham: “Depois que eu conheci a igreja tal, a minha vida mudou”, agora muitas denominações disputam para ver qual é a mais atraente. “Igrejas tal: aqui o milagre acontece” ou “Uma igreja modelo, um modelo de igreja” são alguns dos slogans adotados por líderes que perderam a visão do Reino de Deus.

Na mídia, vemos homens que já defenderam a verdade com intrepidez, verdadeiros profetas do Altíssimo, os quais outrora se levantavam contra movimentos que torcem o Evangelho, como o G-12, agora defendendo-os e se associando a eles por puro interesse comercial (2 Pe 2.3; 1 Tm 6.9-10 e Ef 5.5). Antes, eles se opunham à falaciosa Teologia da Prosperidade e aos desvios na área da batalha espiritual, mas agora se tornaram os principais defensores dessas e de outras doutrinas falsificadas.

A Palavra de Deus afirma que o pregador divinamente chamado deve falar a respeito do Senhor Jesus e de sua gloriosa obra (1 Co 2.1-5). No entanto, o que acontece em grandes congressos de algumas igrejas evangélicas? Os pregadores convidados são aqueles capazes de atrair multidões, mesmo que eles não tenham compromisso com a Palavra de Deus e até propaguem heresias, modismos e maus costumes. E os fundamentos? Ora, quem está preocupado com isso? Afinal, o mais importante é juntar multidões e garantir uma boa arrecadação, com a qual a igreja pagará o alto cachê das celebridades convidadas e ainda ficará com um bom dinheiro em caixa!

Transtornam-se os fundamentos. Mas, como justos, podemos orar pela igreja brasileira, pelos líderes, pregadores, ensinadores e cantores, a fim de que não mercadejem o Evangelho, como muitos têm feito (2 Co 2.17). A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16). Preguemos também a verdade, nada temendo (Ez 2 e At 7). Afinal, a Palavra de Deus assevera: “Conjuro-te (...) que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo (...) Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscência; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo...”, 2 Tm 4.1-5.

 
Ciro Sanches Zibordi é pastor na AD de Cordovil, Rio de Janeiro (RJ), e co-autor de Teologia Sistemática Pentecostal (CPAD) .

Jornal Mensageiro da Paz de Dezembro de 2008, Pág. 16.
* Foto publicada pelo autor do blog

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