“Qual a origem e o sentido do uso de velas na Igreja Católica Romana e em algumas igrejas protestantes, e quais as razões bíblicas para responder quem usa?”
(Joel Batista de Souza, Nova Londrina – PR)
Emmanuel Elmani de Carvalho
Dentre os fatores que têm separado os diversos segmentos cristãos ao longo da história da igreja, certamente um dos mais importantes é a liturgia seguida durante a realização do culto. E dentre tantas práticas diferentes, temos o uso de velas durante as celebrações, praticado, em especial, por católicos romanos, além de algumas igrejas históricas como anglicanos, luteranos, alguns metodistas e alguns presbiterianos.
Parafraseando a pergunta em tela, três questões naturais se levantam sobre esse assunto: Quando teve início a prática de se usar velas nas reuniões de culto por parte desses segmentos? Qual a origem ou fundamento para se adotar tal uso? Que efeito essa prática tem sobre a espiritualidade dos celebrantes?
Não há um consenso sobre quando se iniciou o uso de velas nos cultos cristãos. Alguns autores dizem que a prática teve início em 320 d.C., mas há fontes confiáveis que autorizem tal informação. Além do mais, muitos teólogos e historiadores católicos romanos e até mesmo reformados alegam que o emprego de velas ou luminárias, como candeeiros e lamparinas, fazem parte do rito cristão desde tempos em a igreja se reunia em catacumbas, devido às intensas perseguições sofridas durante os primeiros séculos de história da igreja.
A adoção das velas como elemento presente no culto passou a intensificar-se a partir dos tempos em que a igreja tornou-se religião praticada em todo o Império Romano, com status de religião oficial (no século IV). Nesse período, a comunidade cristã passou a se reunir em prédios, alguns deles antigas instituições públicas, e a apresentar uma liturgia bem sistematizada com a presença de elementos simbólicos “recheando” o ambiente da adoração cristã. Diferentemente da espiritualidade simples dos tempos apostólicos (Ef 5.19; Cl 3.16), as reuniões dessa nova cristandade eram carregadas de formalismo e passaram a utilizar elementos simbólicos para atender à demanda de uma parcela da igreja pseudo-convertida, que necessitava de um culto como o uso de objetos que representassem, de forma material, a presença do Senhor. Houve uma adaptação dos padrões culturais do Antigo Testamento para celebrações da igreja. As cores dos utensílios, as vestes do sacerdote e as luminárias, entre outras práticas – algumas até pagãs –, foram sendo importadas para a liturgia cristã. Assim, as velas passaram a ser usadas como equivalente do candelabro do Santuário ou Templo judaico. Alega-se também que tais luminárias representam a pessoa de Jesus, a luz do mundo.
Sabe-se, de forma conclusiva, que as reuniões da igreja apostólica eram desprovidas de tais elementos materiais. É que a presença do Espírito Santo dispensava o uso de objetos, enquanto, no Antigo Testamento, esses elementos eram usados para prenunciar, como sombras, as realidades espirituais experimentadas pela comunidade primitiva.
Deve-se entender, portanto, que tal prática é inócua. Nada acrescenta à espiritualidade do crente. Não é pecaminoso em si, mas é totalmente dispensável, pois, num culto verdadeiro, a presença real de Cristo ilumina corações e mentes. Na verdadeira adoração, o que mais importa é o estado de comunhão verdadeira com Deus e não os elementos externos que embelezam o ambiente, e que podem esvaziar a alama do adorador.
Emmanuel Elmani de Carvalho, pastor da Assembleia de Deus em Natal (RN), teólogo, professor no Centro de Estudos Teológicos, superintendente da EBD, formando em Administração, pós-graduado em MBM em Gestão Estratégica da Informação, e formando em Ciências Militares.
Jornal Mensageiro da Paz de Abril de 2011, Pág. 17.
* Foto publicada pelo autor do blog