Por Gunar Berg
Não sou filósofo. Não gosto também de ser chamado teólogo. Mas, quando sou lembrado como servo, meu coração dispara. Teólogo e filósofos necessitam de algo que os servos dispensam: liberdade. De expressão. De pensamento. De culto. De tudo. Não atento contra esse princípio básico da democracia, mas não atendo a qualquer reclame que me tente convencer que nossa liberdade de culto carece de defesa. Como assim? Em que sentido? Não discordo que ela esteja sob ataque, mas a questão é que sempre esteve – e assim deve ser.
Embora pareça uma legítima bandeira da Igreja, liberdade para falar de Cristo não faz parte da Grande Comissão. Marcos 16.16 insta-nos a pregar; liberdade não é sequer insinuada ali.
Paulo dizia aos coríntios, com satisfação agora pouco compreendida, de ameaças à pregação, à vida, à liberdade. Regalava-se em que? Por que? Ora, sabia ele que não necessitamos de liberdade para servir. Para ele, e qualquer dos legítimos apóstolos do Senhor, perseguições, calúnias, distorções da verdade e mordaças não exterminavam a Igreja e não encerravam a fé, ainda que pusessem fim às vidas. O que agora é paradoxo um dia foi certeza: os reverses são os palanques sobre os quais se anuncia a Palavra.
São contraditórios o gozo e a preferência de Paulo pelas ameaças e perseguições? Pois mais despropositada é a serventia que se atribui e se devota à liberdade de culto. Não que a liberdade não seja importante, repito, mas faz-se dela o valor último pelo qual lutar, como se o fim dela acabasse com a Igreja. Do jeito que está, em breve não mais pujaremos pelo culto, mas pela liberdade somente – e apenas a nossa, egoístas que somos.
A decantada liberdade de culto está vertendo-se em culto a liberdade, e então, o que é culto virá à tona: gastamo-nos e deixamo-nos agastar por um despropósito, um desatino, um destempero. Liberdade de culto não é quesito espiritual; é, simplesmente, uma demanda conjuntural: hoje se tem; amanhã, não. É mister que seja assim. Quando foi que a Igreja de Cristo espraiou-se nas ondas da liberdade? No aprisionamento de Paulo e Silas? Nas fogueiras de cristãos em Roma? Nos decretos de morte ao Cristianismo de países asiáticos e orientais? No azorrague que lacera a carne dos missionários? Não. A Igreja chegou até aqui não graças à liberdade, mas certamente a despeito dela.
Que é o estado para que nos outorgue liberdade? Quem são os multiculturalistas para que regulem o teor de nossas pregações? Quem os congressistas acham ser para delimitar o alcance da Palavra de Deus? Não sou reacionário, incendiário ou provocativo porque não sou filósofo, pensador ou teólogo, com todo respeito. Mas, sou servo, e como servo sei: ou reaprendemos a servir sem liberdade ou não mais serviremos em verdade.
E se os templos forem fechados? Pois que sejam. E se forem incendiados? Se não há como evitar, deixe-nos queimar. Com que igreja estamos preocupados? Com a de Cristo ou as nossas? E se nos quiserem matar? Morramos, então. Não somos deste mundo! Seremos bem-aventurados por sofrer perseguição por causa da justiça, e teremos o Reino dos Céus.
Enquanto prezamos a liberdade de culto, esquecemo-nos quem somos: somos os servos de orelhas furadas. Somos aqueles que decidiram não ser livres. Somos os que optaram permanecer sob os que auspícios de seu Senhor. Somos aqueles que só sabem servir. E podemos servir sem liberdade.
Gunar Berg é pastor da Assembleia de Deus em Paulínia (SP) e professor de Teologia na Faculdade de Educação Teológica da Assembleia de Deus (Faetad).
Jornal Mensageiro da Paz de Outubro de 2011, Pág. 22.
* Foto publicada pelo autor do blog
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