quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A REFORMA PROTESTANTE E OS PENTECOSTAIS

Por Esequias Soares

Por ocasião das comemorações da Reforma Protestante, um conhecido pastor brasileiro afirmou, em declaração infeliz, que “uma igreja que pratica companha, jejum ou reuniões específicas para receber uma benção não é protestante”, concluindo em seguida que pentecostais não podem ser considerados protestantes, o que merece uma resposta bíblica.
No último 31 de outubro, a Reforma Protestante completou 488 anos de história. A suprema conquista da Reforma foi o reconhecimento das Sagradas Escrituras como a fonte única da doutrina, do conteúdo da fé cristã. A salvação é somente pela graça, recebida somente pela fé de cada cristão.
Martinho Lutero veio em primeiro lugar como fundador de um movimento que se perpetuou, ao passo que “Igrejas Reformadas” é o termo aplicado às que seguiram o movimento de João Calvino. Eles próprios se submeteriam ao consenso do que as Sagradas Escrituras ensinam. Daí Calvino dizer que “a igreja reformada sempre deve esta se reformando”, enquanto que a mentalidade do irmão mais velho do filho pródigo quer uma rigidez no ponto até onde alcançou, e não há vaga para os demais. Isto é: as conquistas religiosas dos tempos da Reforma não conseguiram impedir que o Espírito Santo continuasse falando aos crentes.
Historicamente, a igreja quando passou a ser a religião oficial do Império Romano, já sem perseguições e martírios, foi desenvolvendo um sistema de jejuns meritórios, justamente o que se critica. Os reformadores, diante disso, rejeitavam dias obrigatórios de jejuns. Por outro lado, a volta sistemática aos ensinos bíblicos pelas igrejas verdadeiramente fiéis trouxe de volta o jejum no seu sentido espiritual, de comunhão com Deus, de buscas a sua presença e com fé.
O jejum, na Bíblia, inclui abstinência de todos os alimentos durante determinado período de tempo. É normalmente vinculado com atos públicos de religião, seja no Dia da Expiação (Lv 16.29-31), seja em tempos de perigo nacional (Jz 20.26) ou de arrependimento e renovação da fé em Deus. Sempre era ligado à oração, a humilhar-se diante de Deus, a buscar a face do Senhor, e qualquer indivíduo podia jejuar em momentos de aflição, para buscar consolo da parte de Deus, ou como expressão de piedade ou devoção conforme a ocasião que cada fiel escolhia.
Em Ester 4.16, livro em que não aparece literalmente o nome de Deus, o jejum para os judeus significava, especificamente, buscar a Deus, humilhar-se diante Dele, pedir a sua intervenção. Tratava-se de uma campanha de oração a Deus!
Os profetas podiam condenar o jejum falso, com rito praticado por pessoas que não se arrependeram genuinamente diante de Deus e que não se deixariam comover pelo amor ao próximo (Is 5.8 e Jr 14.11-12), mas, justamente assim, definem o que o jejum deve ser.
Jesus mesmo fez seu grande jejum no deserto antes de iniciar o seu ministério (Mt 4.1-2 e Lc 4.1-2). Por contraste com os jejuns tão comuns entre os judeus dos seus tempos, com tantas regras e pormenores, Jesus enfatizou ser o jejum mais um ato individual de devoção a Deus, sem ostentação pública, e menos apropriado na presença pessoal de Jesus do que depois da sua partida (Mt 6.16-18; 9.14-15).
Nossos críticos jamais deveriam esquecer a expressão “meios da graça” que os reformadores usavam bastante. Orações, leituras bíblicas, pregações, o batismo, a Santa Ceia e numerosos princípios registrados na Bíblia, todos são meios de o crente apresentar a mão vazia para aceitar a graça. “Graça” desvinculada de qualquer ligação entre o ser humano e Deus parece bem sub-protestante.
Considerando infundada a declaração “os pensadores pentecostais desenvolveram uma explicação baseados nas experiências”. Convém lembrar que a “explicação” provém da Bíblia. A definição pentecostal só pode ter existência sólida no estudo da Palavra de Deus, tanto as breves meditações singelas dos mais humildes cordeiros de Jesus como as grandes obras da Teologia Sistemática pentecostal.
É verdade que a doutrina pentecostal dá muita ênfase às experiências pessoais do cristão com o Senhor Jesus. Mas, a diferença básica é que essas experiências são fundamentadas na Palavra de Deus. Religião sem sobrenatural é mera filosofia.
Na farta literatura pentecostal que tem surgido a partir de 1900, existe muitos estudos bíblicos sobre a atuação do Espírito Santo na Bíblia e comprovações de que a mesma atuação continua se desdobrando onde ela é aceita, isto sem negar a soberania divina que permite surgir a mesma operação milagrosa onde nem era esperada. Quaisquer experiências são fruto dessa atuação do Espírito Santo, “repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11). Cada uma tem suas características individuais.
Uma das características da Dispensação da Graça é o fato de Deus comunicar-se com cada crente individualmente, independentemente de sexo, raça e idade, por meio de sonhos, visões, profecias e até pelas pequenas coisas naturais do dia-a-dia (At 2.17-18). Esses privilégios eram restritos aos profetas ou alguém escolhido por Deus para uma obra específica nos tempos do Velho Testamento (Nm 12.6).
A notícia a respeito do batismo no Espírito Santo e os dons milagrosos que se seguiam correu muito rapidamente, e muitas pessoas acolhiam-na como cumprimento dos seus anseios espirituais. As experiências seguiam às doutrinas; assim como também a experiência segue a conversão, como realidade sólida baseada na obra específica realizada por Cristo.
Temos, sim, o dom da profecia, mas apropriado para surgir num culto de adoração. O dom provem da parte do Espírito Santo. Assim, temos em Atos 21.9 “quatro filhas donzelas, que profetizavam”. Recebiam o dom de profecia da parte do Espírito Santo. As igrejas pentecostais legítimas andam na Bíblia, é o Espírito Santo quem lhes confirma a total veracidade e o poder espiritual das Escrituras Sagradas. Não sei se outros grupos, mesmo tendo pais espirituais de 488 anos atrás, estão tão fiéis à Palavra de Deus... A marca distintiva da Reforma Protestante está presente em nosso meio Sola Scriptura, Sola Gracia, Solo Cristus e Sola Fides. Nossa crenças e prática são provenientes das Escrituras Sagradas. Defendemos os mesmos pontos cardeais da fé cristã das demais igrejas e denominações co-irmãs.

Esequias Soares é pastor, líder da AD em Jundiaí (SP)  e da Comissão de Apologética da CGADB.

Jornal Mensageiro da Paz de Dezembro de 2005, Pág. 14.

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