quinta-feira, 6 de novembro de 2014

IMPOSIÇÃO DE MÃOS



Carlos Kleber Maia

O escrito da Epístola aos Hebreus fala de seis coisas elementares que cada crente, mesmo os novos na fé, precisam conhecer antes de amadurecerem, e entre elas está a imposição das mãos (Hb 6.1,2). Segundo o Dicionário Bíblico John Davis, a imposição de mãos era um ato simbólico pelo qual se fazia a congregação de uma pessoa ou animal para um fim específico.
A imposição de mãos envolve basicamente um princípio de transferência, de benção, de culpa, de poder ou de autoridade. Deve ser usada com cuidado, mas não deve ser negligenciada, pois é um importante meio dos membros do Corpo de Cristo servirem uns aos outros, quando uma pessoa coloca sua mão ou ambas sobre o corpo de outra pessoa, com um propósito espiritual definido. Propósitos para imposição de mãos:
1) Imputar
Os israelitas punham as mãos sobre a cabeça das vítimas quando traziam um animal para o altar dos sacrifícios e o consagravam a Deus, como representante e substituto do pecador (Êx 29.10,15, 19; Lv 1.1-5; 4.15; 8.4,18, 22; 16.21; 24.14; Nm 8.12; 2 Cr 29.23). A ideia era transferir a culpa para aquele animal, que seria sacrificado em favor do pecador.
Também quando alguém era apedrejado por ter cometido sério delito, os anciãos impunham as mãos sobre ele (Lv 24.10-14). Neste caso, as testemunhas declaravam que a culpa caísse sobre o ofensor. O lavar de mãos significava: “Não somos culpados” (Dt 21.6); a imposição: “Ele é culpado”.
2) Curar
O emprego da imposição de mãos na administração de curas já era conhecido no Antigo Testamento. O general Naamã aparentemente esperava que o profeta Eliseu a empregasse no seu caso (2 Rs 5.11). Em nenhum texto a imposição de mãos é apresentada como algo mágico e poderoso em si mesmo, nem como um gesto necessário para que algo especial aconteça. Em alguns casos, surge como um gesto litúrgico. No caso da oração por cura, era um gesto de fé na ação divina. Exemplos:
- Jesus curou muitas pessoas impondo-lhe as mãos (Mt 8.3,23; Mc 1.41; 6.2-5; 7.32; 8.15, 23-25; 16.18; Lc 4.40; 5.13; 13.13; 22.51). isso era tão habitual que as pessoas que o procuravam pediam que Ele impusesse as mãos sobre os enfermos (Mt 9.18; Mc 5.23; 8.22) ou mesmo que os enfermos tocassem nEle (Mt 14.35,36). O toque físico de Jesus era um meio de transmissão da cura e, por isso, as pessoas procuravam tocar-lhe (Lc 6.19; Mt 9.20-22,25; 20.34; Mc 1.31; 5.41; 9.27; Lc 7.14; 8.51; 22.51). Tão frequentemente Jesus tocava as pessoas, que estas mencionavam que milagres eram operados por Suas mãos (Mc 6.2).
- O Senhor também delegou esse poder a sua igreja (Mc 16.18).
- Os apóstolos impuseram as mãos para curar (At 5.12; 9.12-17; 28.8-9). Por meio de Paulo e Barnabé, Deus operou milagres, “por suas mãos” (At 14.3; 19.11). Tiago parece sugerir essa prática, associada à unção com azeite e oração (Tg 5.14-16). Eles criam que era a própria mão de Deus que esteva operando por intermédio de suas mãos (At 4.29,30).
3) Consagrar 
O ato de imposição de mãos significa, segundo autorização divina, que aquela pessoa estava separada e autorizada a realizar determinada missão. Exemplos:
- A imposição de mãos do povo de Israel sobre a cabeça dos levitas consagrando-os ao serviço do Senhor em lugar dos primogênitos de todas as tribos (Nm 8.10,14,19);
- Moisés impôs as mãos sobre Josué para transmitir-lhe autoridade e separá-lo para ser o novo líder do povo de Deus (Dt 34.9; Nm 27.15-23; Js 1.16,17; Nm 8.10).
- Paulo e Barnabé são separados para o trabalho missionário pela a imposição de mãos, assim recebendo uma unção especial para realizar aquele trabalho (At 13.1-4). A Igreja que impõe as mãos abençoa, envia e assume, diante de Deus e dos homens, o compromisso de cuidar dos enviados;
- Os diáconos (At 6.6) e os presbíteros (1 Tm 5.17-22) foram separados através da imposição de mãos. Isso significava que o ordenado recebia autoridade e ficava devidamente autorizado para exercer o ministério.
- Paulo e Barnabé elegiam (no grego, cheirotoneo = impor as mãos) presbíteros em cada cidade onde estabeleciam igrejas (At 14.23). Um irmão foi também eleito (mesmo verbo no grego) para levar as ofertas para os crentes da Judéia (2 Co 8.18,19).
- Um caso curioso é o do profeta Eliseu na consagração de Jeoás, rei de Israel, pois impôs as mãos sobre ele e sua arma, com a qual venceria os siros (2 Rs 13.14-19).
4) Abençoar  
A imposição de mãos, muitas vezes acompanhada de oração, simboliza a transmissão da benção àqueles sobre quem é realizada:
- Jacó sobre a cabeça dos filhos de José, dando-lhes lugar entre os filhos e conferindo-lhes as bênçãos do Pacto e transferindo-as a eles do mesmo modo que haviam feito os seus antepassados (Gn 48.5-20).
- Jesus abençoava especialmente as criancinhas, impondo-lhes as mãos (Mt 19.13-15; Mc 10.13-16; Lc 18.15).
5) Outorgar o poder e os dons do Espírito Santo
Muitas vezes os crentes impuseram as mãos sobre aqueles que desejavam o batismo com o Espírito Santo, bem como sobre aqueles que buscavam os dons espirituais:
- Pedro e João impuseram as mãos sobre os crentes de Samaria (At 8.14-24);
- Ananias ministrou cura e o poder do Espírito Santo sobre Paulo (At 9.10-17);
- Paulo orou e impôs as mãos sobre os crentes de Éfeso para que recebessem o batismo e os dons do Espírito Santo (At 19.6).
- Timóteo também recebeu dons pela imposição de mãos (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6).
Quando devemos impor as mãos?
Para pedir a Deus a cura ou a benção sobre alguém, podemos fazê-lo sempre que for necessário. Entretanto, antes de impor as mãos em novos obreiros, ministros ou missionários, deve-se levar em consideração o tempo certo fazê-lo com grande cuidado. A imposição de mãos é o último e mais público dos estágios do processo de tomada de decisão diante do Senhor.
Obviamente, não se deve escolher a pessoa errada, que poderá trazer a ruína e a divisão para a igreja (1 Tm 5.22). impor as mãos, neste caso, está relacionado com o reconhecimento do chamado de Deus e não deve ser feito sem a direção do mesmo, mas deve ser para confirmar a Sua vontade sobre alguém e não para determiná-la segundo nossa própria vontade. A igreja deve zelar para não delegar autoridade e estabelecer no ministério pessoas despreparadas, mas considerar o tempo certo e fazê-lo com grande cuidado.
Impor precipitadamente as mãos sobre alguém traz dificuldades para aquele que o faz, pois o mesmo pode tornar-se co-participante dos pecados do que foi consagrado, se este vier a cometê-los, além de ser culpado de: 1) erro na consagração; 2) falta de discernimento espiritual; e 3) precipitação na escolha.
Como impor as mãos?     
Normalmente, a pessoa que recebe a imposição das mãos fica em posição que facilite o ato, de joelhos ou sentada, a aquele que impõe as mãos orará no mesmo ato. Às vezes, um grupo de crentes circundará alguém com necessidades e todos imporão as mãos sobre esta pessoa.
Conclusão
A imposição é um meio pelo qual os cristãos servem uns aos outros, seja abençoando, curando, transmitindo o poder do Espírito Santo ou reconhecendo o ministério que Deus lhes outorgou. O uso da imposição de mãos para imputação de pecados ou culpa é mais necessário, pois Cristo já cumpriu a obra de Salvação e pode perdoar todos os que se achegam a Ele em arrependimento e confissão. Assim, não devemos menosprezar este ato, mas seguir o exemplo de Jesus e da Igreja Primitiva, e usá-lo com sabedoria e fé.
Bibliografia
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
ELWELL, Walter A. ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2009.  

Carlos Kleber Maia é ministro na Assembleia de Deus em Natal (RN) e bacharel em Teologia do Novo Testamento.
Jornal Mensageiro da Paz de Julho de 2013, Pág. 16.

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